O plano é matar ainda mais brasileiros?
Enquanto diferentes países já anunciaram que começarão a vacinar as suas populações a partir de janeiro e terminarão até meados de 2021, no máximo, a fim de evitar uma terceira onda de Covid-19, o governo de Jair Bolsonaro divulgou que a imunização no país terá início em março próximo e se estenderá até o final do ano que vem, com o uso preferencial da vacina comprada pelo governo federal, a da AstraZeneca/Oxford, e sem alcançar toda a população...
Enquanto diferentes países já anunciaram que começarão a vacinar as suas populações a partir de janeiro e terminarão até meados de 2021, no máximo, a fim de evitar uma terceira onda de Covid-19, o governo de Jair Bolsonaro divulgou que a imunização no país terá início em março próximo e se estenderá até o final do ano que vem, com o uso preferencial da vacina comprada pelo governo federal, a da AstraZeneca/Oxford, e sem alcançar toda a população.
Só pode ser um plano para matar ainda mais brasileiros de Covid-19, o último capítulo das sabotagens perpetradas contra o combate à doença. Como disse o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, “o plano de vacinação que parte da existência de uma única vacina é de um cartorialismo criminoso. Propor que iniciemos a vacinação em março e que no máximo alcancemos um terço da população em 2021 significa não realizar nenhum mínimo esforço de tentar oferecer alternativas à população. É uma pública capitulação. É um crime.”
O crime começou com a negação da gravidade da pandemia e continuou com a recusa de traçar uma estratégia nacional de enfrentamento da Covid-19, o que deveria ter incluído a coordenação na compra de diferentes vacinas. Agora chega ao seu ápice com o anúncio de que a imunização em nível nacional será feita parcial e tardiamente, em mais uma demonstração de que a picuinha política do presidente da República com o governador João Doria se sobrepõe ao interesse público.
Pode-se criticar o governador pelo tipo de exploração que ele fez da Covid-19, mas João Doria está coberto de razão ao expressar a sua indignação, seja calculada ou não: “Se o governo federal tiver juízo, competência e entender que mais de 600 brasileiros morrem por dia pelo coronavírus, com essas doses da Coronavac poderá também oferecer (imunização) para toda a população brasileira de São Paulo e de outros estados do país. Eu indago se os membros do governo federal que vivem na capital do país não enxergam, não leem e não sabem que existem mais de 600 brasileiros que morrem todos os dias. É surpreendente essa indiferença, essa falta de compaixão com os brasileiros. Por que iniciar uma imunização em março se podemos fazer já em janeiro? Vamos perder mais 60 mil vidas? Vamos deixar que mais 60 mil brasileiros morram para daí iniciar a imunização?”
A esta altura, está claro também que tanto o governo federal como o governo paulista erraram ao privilegiar a compra de vacinas de laboratórios que se dispuseram a transferir tecnologia. Deveríamos ter entrado há meses na fila dos compradores das vacinas da Pfizer/BioNtech e da Moderna, empresas que manterão a exclusividade do seu know-how. Deixamos de fazê-lo e agora hesitamos em aceitar a última oferta da Pfizer, ao contrário do México e outros países latino-americanos. Durante uma pandemia mortífera, o mais importante é ter imunizantes, não a capacidade de fabricá-los, com todo o respeito à Fiocruz e ao Instituto Butantan. O nacionalismo, porém, vem falando mais alto.
A estupidez mata.
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