Um governo sempre em férias
Jair Bolsonaro passou alguns dias de férias e voltou cheio de ideias para fomentar o turismo e enriquecer o Brasil. Ele zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado na importação de barcos a vela e jet skis e disse que vai se esforçar para que fique mais fácil obter a habilitação para dirigir esses últimos. Agora vai...
Jair Bolsonaro passou alguns dias na praia e voltou cheio de ideias para fomentar o turismo e enriquecer o Brasil. Ele zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado na importação de barcos a vela e jet skis e disse que vai se esforçar para que fique mais fácil obter a habilitação para dirigir esses últimos. Agora vai.
As medidas, obviamente, são fruto do voluntarismo. Não existe a menor chance de que elas produzam qualquer impacto significativo no turismo brasileiro. Bolsonaro deve ter ouvido a conversa interessada de algum dono de barco e logo a transformou em política de estado.
A frota de veleiros não vai se multiplicar no Brasil apenas porque o imposto caiu. Assim como falta infraestrutura para os navios de cruzeiro atracarem no Brasil, faltam piers e marinas para embarcações menores. Não sou eu quem diz, é o “Guia de Retomada Econômica do Turismo”, preparado por uma consultoria para a pasta do ministro sanfoneiro Gilson Machado (foto).
O caso dos jet skis é ainda mais patético. A motoca é detestada por muita gente por causa do óleo que deixa na água e do cheiro de diesel que deixa no ar, por causa do barulho e dos pilotos arrogantes e irresponsáveis. Mas, como Bolsonaro se arrepia ao sentir aquele ventinho no rosto, pouco importa se o veículo polui ou incomoda. Ou você acha que o gosto pessoal de Bolsonaro não coincide exatamente com aquilo que é importante para a nação?
Ninguém discute que o turismo precisa crescer no Brasil. Uma única atração na Europa, a Torre Eiffel, atrai mais visitantes por ano do que todos os destinos nacionais: 7 milhões de pessoas contra 6,6 milhões de pessoas. A defasagem também se observa na participação do turismo no PIB. Em 2019, antes da pandemia, o setor respondia por 7,7% do PIB brasileiro. Na Espanha, na França, na Inglaterra e na Itália, a proporção é de 13% ou 14%.
O “Guia de Retomada Econômica do Turismo” encomendado pelo ministro sanfoneiro faz todo o sentido do mundo. Ele oferece um diagnóstico da situação brasileira, levanta as melhores práticas mundiais e elenca iniciativas estruturantes, que vão da criação de linhas de financiamento até o provimento de assistência ao viajante, passando pelo impulsionamento do turismo sustentável e do ecoturismo. Os decretos viajandões de Bolsonaro nada têm a ver com isso.
Mas a exasperação causada pela antipresidência da República só aumenta quando você olha para os aeroportos e descobre que 40 mil pessoas foram deixadas na mão neste fim de ano, sem poder voltar para casa ou chegar aos seus destinos, porque uma companhia aérea novata, a ITA Transportes Aéreos, interrompeu suas operações sem aviso prévio. Nem é preciso olhar o guia de Gilson Machado para saber que um setor de aviação confiável é pré-requisito para qualquer ambição nacional no turismo.
O escândalo da ITA só ocorreu porque o governo e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foram, no mínimo, negligentes na análise do caso. Os indícios de que a empresa poderia ter um voo de galinha estavam todos à vista, dado o estado falimentar do Grupo Itapemirim, ao qual ela está ligada, e a notória dificuldade que as companhias aéreas, todas elas, enfrentam para operar no azul.
Esse é o governo Bolsonaro. Quando se trata de fazer as coisas certas, ele está sempre em férias.
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