O Brasil é um projeto da esquerda, da direita, do centro, de cima e de baixo
Darcy Ribeiro, um dos símbolos da esquerda brasileira, disse certa que vez que "a crise da educação no Brasil não é uma crise: é projeto". O diagnóstico é preciso, basta verificar os nossos resultados nos exames internacionais que medem o grau de aprendizado dos nossos alunos. Na prova de nível de leitura do Pisa, para ficar em apenas um exemplo, estamos entre os 20 piores países do mundo. Só que, ao contrário do que Darcy Ribeiro acreditava, o projeto é de todos: da esquerda, da direita, do centro, de cima e até de baixo. Ele também não se restringe à educação. É geral...
Darcy Ribeiro, um dos símbolos da esquerda brasileira, disse certa que vez que “a crise da educação no Brasil não é uma crise: é projeto”. O diagnóstico é preciso, basta verificar os nossos resultados nos exames internacionais que medem o grau de aprendizado dos nossos alunos. Na prova de nível de leitura do Pisa, para ficar em apenas um exemplo, estamos entre os 20 piores países do mundo. Só que, ao contrário do que Darcy Ribeiro acreditava, o projeto é de todos: da esquerda, da direita, do centro, de cima e até de baixo. Ele também não se restringe à educação. É geral.
A crise da Saúde no Brasil também não é uma crise; é projeto. Basta ver como chegamos a esta pandemia, com quase metade da população brasileira sem acesso à coleta de esgoto. Apenas metade do esgoto é tratado no país, segundo o Instituto Trata Brasil. A crise da Habitação no Brasil não é uma crise, igualmente; é projeto. Em 2019, havia 5,2 milhões de domicílios no país localizados em favelas ou áreas análoga, segundo o IBGE. Boa parte das quase 230 mil mortes de Covid-19 está relacionado a esse quadro dramático que impede o distanciamento social mínimo.
A crise da Segurança Pública no Brasil não é tampouco uma crise; é projeto. Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro (e com Sergio Moro no Ministério da Justiça, o número de assassinatos cometidos caiu de 65.602 para 47.773 por ano, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, seguindo a mesma tendência verificada no último ano do governo Temer. Infelizmente, os assassinatos voltaram a aumentar no primeiro semestre de 2020 em 7,1%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 25.712. Ainda não há números consolidados para o ano inteiro, mas certamente continuamos no plano do simplesmente assustador.
A crise econômica no Brasil não é uma crise; é projeto. Antes da pandemia, mais de 50 milhões de cidadãos, quase um quarto da população do país, viviam abaixo da linha da pobreza. Até a pandemia, enfatize-se. O estado esmaga a iniciativa privada, consumindo mais de 33% do PIB em impostos. É preciso pagar uma casta privilegiada e enriquecer os exploradores da nação. Diante desse quadro, os otimistas até podem argumentar que quase tudo melhorou em relação a 20 anos, mas o fato é que a melhora foi praticamente inercial, é plena de retrocessos, e não tem comparação com a experimentada em outros países emergentes.
Ocorreu-me fazer essa compilação banal depois da abertura do ano legislativo, com Câmara e Senado comandadas por fisiológicos sem vergonha de sê-lo; depois da oficialização do fim da Lava Jato do Paraná; depois de mais um capítulo da trama que deve anular as condenações de Lula, depois de constatar que se continua a usar a pandemia e as vacinas para fazer política eleitoreira e embolsar dinheiro indevido; depois de ver o presidente da República erguendo um cartaz contra uma emissora de televisão, a fim de continuar desviando a atenção da sua claque do que realmente interessa.
Hoje não deu para escrever com graça sobre o que não tem a menor graça. Só os ingênuos não veem que o Brasil depauperado, despreparado e indefeso é um projeto de poucos para muitos, um plano secular, não fruto de crises sucessivas. O projeto está de tal forma enraizado em nossas almas que até parece algo natural: “o Brasil é assim mesmo”. Sim, o choro é livre.
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