Nêumanne, na Crusoé: “Diabólica tragédia no Nordeste brasileiro”
"Do fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa, eu preferia morrer”, disse, em novembro de 2012, o ministro da Justiça da terceira gestão petista na Presidência de nossa insana República, José Eduardo Cardozo...
“Do fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa, eu preferia morrer”, disse, em novembro de 2012, o ministro da Justiça da terceira gestão petista na Presidência de nossa insana República, José Eduardo Cardozo. Como se não bastassem a ênfase suicida da frase e a estupefação causada num auditório inusitado, reunindo a fina flor da burguesia brasileira em São Paulo, pela confissão bombástica, Sua Excelência ainda a exalou convocando o testemunho do músculo cardíaco, cuja pulsação testemunha sua vida. Apelos à Indesejada das Gentes à parte, é útil lembrar que, apesar de nunca ter sido forçado a conviver com prisioneiros em celas, o profissional das leis tem larga experiência de ofício no cálculo para atingir o ápice do apelo. Com ele o ocupante da pasta mais antiga do governo federal reagiu a um relatório da Subcomissão de Prevenção da Tortura da ONU. Nele foi denunciado o estado terminal de muitas prisões brasileiras, chegando ao ponto de recomendar o fechamento imediato do presídio Ary Franco, ainda funcionando como porta de entrada do sistema penal no Rio de Janeiro. O documento detalhava que ali foram registrados casos de tortura e tratamento degradante aos detentos, além de as celas apresentarem condições de insalubridade, sujeira e estarem infestadas de insetos.
A bomba retórica atinge grau mais elevado de explosão pelo fato de que o militante do PT era, então, o mais graduado encarregado pela administração do sistema presidiário nacional, tendo sua parcela de responsabilidade por parte relevante do problema. E, principalmente, pela política de Estado a ser adotada, se não para pôr fim a esse absurdo, pelo menos para atenuar seus efeitos. Qual o quê?! Passados 11 anos e meio da confissão capaz de fazer o bispo de Hipona, Santo Agostinho, tremer na tumba, o cidadão livre desse martírio e financiador do aparato estatal montado para isolar os malfeitores dos patrícios de bem nunca foi informado de nada que possa contestar ou relativizar a consequência bombástica do discurso ministerial, ou seja, oficialíssimo. Se há algo no planeta chamado Terra que possa ser comparado com as penas a serem purgadas no inferno, descritas no Apocalipse do evangelista João, no poema fundador da transmutação do dialeto toscano para a língua italiana da lavra de Dante Alighieri ou nos folhetos de cordel do genial Leandro Gomes de Barros, são as ditas “canas duras”. No mundo em geral e no Brasil em particular, por nosso estado de catalepsia agônica. Comprovam a afirmação as consequências funestas das rebeliões deflagradas nesse ínterim em estabelecimentos penais como o de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na mesma Grande Natal que agora pena, Manaus, Salvador, Monte Cristo (RR), Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza, Altamira (PA) etc.
Desde o episódio momentoso de Carandiru, em São Paulo, a violência interna nas celas reflete guerras de facções criminosas, que exploram a superlotação dos ambientes prisionais. No Brasil…
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