Mourão: da geladeira para a Amazônia em chamas
No começo do segundo ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro tirou seu vice Hamilton Mourão da geladeira e lhe deu a missão de comandar o Conselho da Amazônia e Força Nacional Ambiental...
No começo do segundo ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro tirou seu vice Hamilton Mourão da geladeira e lhe deu a missão de comandar o Conselho da Amazônia e Força Nacional Ambiental.
O grupo de trabalho foi criado para coordenar as ações de proteção, defesa e desenvolvimento sustentável na Amazônia. Um dos objetivos do conselho é angariar recursos no exterior, por meio do Fundo Amazônia, para financiar seu trabalho.
Em maio, Mourão rasgou a fantasia da moderação militar ao escrever um artigo para o Estadão em que voltou a defender teses autoritárias.
Sem usar o vocabulário xucro do capitão, o general repetiu o discurso de Bolsonaro de que as medidas de isolamento contra a pandemia de Covid-19 provocariam o “caos” e “desastre”.
Criticou prefeitos e governadores e afirmou que “há tempo para reverter o desastre”: “Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades legalmente constituídas”.
E atacou o ministro Celso de Mello, então relator do inquérito sobre a interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
Sem citá-lo nominalmente, afirmou que o então ministro do STF estaria sendo “irresponsável” e “intelectualmente desonesto” ao apontar riscos à democracia.
Em resumo, jogou a culpa nos magistrados, legisladores e na imprensa pelas crises do Planalto.
No ano em que o Pantanal e a Amazônia registraram recorde de queimadas, o vice-presidente minimizou a crise ambiental e afirmou que o Brasil é o país que “menos desmatou na história da humanidade”.
Em outro discurso, repetiu que o país não é o vilão ecológico como pintam no exterior. Chegou até a convidar o ator Leonardo DiCaprio para marchar “oito horas” pela selva, para tirar suas próprias conclusões.
Questionado sobre o número de queimadas no Pantanal, afirmou ainda: “Recordes acontecem, né”.
Mourão demorou, mas admitiu em agosto que o acordo do Mercosul com a União Europeia “parece que começou a fazer água” por causa da crise ambiental.
Ainda que tenha atuado para contemporizar declarações do presidente, Mourão também discordou com frequência de Bolsonaro.
Em outubro, por exemplo, o vice-presidente afirmou que o governo iria comprar a Coronavac, a vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, adquirida pelo governo de São Paulo, contrariando declarações do presidente.
Também criticou Bolsonaro pela forma como conduziu os esforços contra o novo coronavírus: “Ter mais de 70 mil pessoas que já foram a óbito, você não pode ficar batendo palmas para isso e achar que é normal”.
Durante a posse de Nelson Teich no Ministério da Saúde, após Bolsonaro demitir Luiz Henrique Mandetta da pasta em meio à pandemia, Mourão ainda brincou: “Está tudo sob controle. Não sabemos de quem“.
Procurado todos os dias pela imprensa para comentar decisões do governo ou falas desastradas de Bolsonaro, o vice já disse que vai se vacinar contra a Covid-19, desde que o imunizante seja “eficiente e eficaz”. E que acha “normal” criar restrições para quem não se vacina.
Bolsonaro deve dispensar Mourão nas eleições de 2022. O general, porém, declarou que gostaria de concorrer novamente numa chapa com o presidente: “Estou trabalhando para isso.”
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