Mario Sabino, na Crusoé: Giulia
"Não sei se um dia voltarei a publicar um livro que não seja outra coletânea de artigos, mas, se o fizer, tentarei estar à altura de uma linda e triste história: a do grande amor da vida do meu avô materno, Trento", diz Mario Sabino, em sua coluna na Crusoé. "O nome dela era Giulia. Giulia Innocenti...
“Não sei se um dia voltarei a publicar um livro que não seja outra coletânea de artigos, mas, se o fizer, tentarei estar à altura de uma linda e triste história: a do grande amor da vida do meu avô materno, Trento”, diz Mario Sabino, em sua coluna na Crusoé.
“O nome dela era Giulia. Giulia Innocenti. Descobri o grande amor da vida de Trento há exatos 20 anos, ao abrir uma maleta que lhe pertencia e que jazia no fundo do armário da minha mãe. Minha mãe morreu, em março de 2002, e eu fiquei com a maleta. Foi toda a minha herança. Dentro da maleta, havia fotos de uma moça, datadas da década de 1920, sem identificação. Magra, sorridente, chapéu sino, feições delicadas, embora não exatamente bonita. Misturado às fotos, havia um pequeno recorte de jornal, informando que o corpo de Giulia Innocenti havia chegado a Cuneo, cidade próxima a Torino, proveniente de Paris. Supus que a moça era Giulia. Ela havia morrido com 30 anos, em 1930, quando o meu avô já estava no Brasil, para onde fugira, perseguido por Benito Mussolini.
Um ano depois da morte de Giulia, o meu avô recebeu de um amigo a notícia de que o túmulo que havia mandado fazer para ela estava pronto. Havia duas fotos: a da primeira tumba, modesta, e a do sepulcro erigido pelo artista contratado por Trento, que trazia — traz — uma inscrição que fala do amor santificado pela morte. Desde então, a memória de Giulia habita um pequeno canto da minha existência vilificada pelo jornalismo. Em 2008, fui a Cuneo, para visitá-la no seu túmulo.”
LEIA AQUI; assine a Crusoé e financie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)