Marcelo Crivella, da Prefeitura para a cadeia
A gestão do prefeito Marcelo Crivella no Rio de Janeiro foi marcada em 2020 por escândalos em série. O ano terminou com cinco pedidos de impeachment arquivados e sua prisão, a nove dias de encerrar o mandato, no âmbito do inquérito sobre o 'QG da propina'...
A gestão do prefeito Marcelo Crivella no Rio de Janeiro foi marcada em 2020 por escândalos em série. O ano terminou com cinco pedidos de impeachment arquivados e sua prisão, a nove dias de encerrar o mandato, no âmbito do inquérito sobre o ‘QG da propina‘.
Crivella é acusado de comandar esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, por meio de contratações fraudulentas na Riotur, empresa municipal de turismo, que foi alvo de operação do Ministério Público, em março.
O pivô do inquérito foi Marcelo Alves, ex-presidente da Riotur e irmão de Rafael Alves, identificado como homem forte do governo Crivella e seu principal operador.
Segundo o Ministério Público, o ‘QG da Propina’ recebia R$ 1,5 milhão por mês de uma empresa de planos de saúde para intermediar o fornecimento de serviços a funcionários do município. A partir da delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, a investigação descobriu cobrança de propina a diversos fornecedores da Prefeitura que tinham pagamentos a receber, como a Mktplus – a favor da qual Crivella atuou pessoalmente.
Durante a operação de março, um fato pitoresco: o prefeito ligou para Rafael no momento em que o MP do Rio e a Polícia Civil faziam buscas e apreensão na empresa. Ao ouvir um “alô”, Crivella perguntou o que estava acontecendo na Riotur. Mas quem atendeu não foi Rafael, e sim um dos delegados da operação. Ao ser informado sobre o que ocorria, o prefeito desligou rapidamente.
A operação que prendeu Crivella, em 22 de dezembro, foi autorizada pela desembargadora Rosa Helena Guita, do Tribunal de Justiça do Rio. Segundo ela, “é evidente que o prefeito se locupletava dos ganhos ilícitos”, citando pagamentos a Mauro Macedo, primo de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e tesoureiro das campanhas de Crivella.
Para o Ministério Público do Rio, há indícios de que a Igreja Universal do Reino de Deus teria integrado o esquema montado na prefeitura. Crivella é bispo licenciado da Universal e também foi proibido de retomar suas atividades na igreja.
Um relatório de inteligência financeira do Coaf identificou movimentações financeiras da igreja de mais de R$ 5,9 bilhões, entre 5 de maio de 2018 e 30 de abril de 2019.
Antes da prisão do prefeito, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro rejeitou a abertura de processo de impeachment, por crime de responsabilidade, no caso do QG da Propina.
Não bastasse a corrupção, a gestão de Crivella foi marcada também pelo abuso de poder.
No final de agosto, a TV Globo mostrou que funcionários da prefeitura de Crivella foram contratados com dinheiro público para impedir que repórteres da emissora mostrassem a precariedade dos hospitais municipais.
O grupo se autodenominava “guardiães do Crivella“ e o próprio prefeito acompanhava o trabalho de sua milícia por WhatsApp. Segundo a Polícia Civil, o grupo tinha acesso ao gabinete do prefeito.
Como no caso do ‘QG da Propina’, a Câmara Municipal rejeitou novo pedido de abertura de processo de impeachment.
Carlos Bolsonaro, o vereador-geral da República, foi um dos 25 vereadores que votaram contra o afastamento de Crivella. Flávio Bolsonaro também saiu em defesa do prefeito no caso dos “guardiões” e atacou a reportagem da TV Globo: “Não se deixe manipular pela #globolixo”.
Os dois filhos de Jair Bolsonaro, aliás, se filiaram ao Republicanos de Crivella – que contou com o apoio do presidente da República para sua tentativa frustrada de reeleição.
Em setembro, o Tribunal Regional Eleitoral chegou a condenar Crivella por abuso de poder político para beneficiar o filho, que se candidatou a deputado em 2018. Os dois foram declarados inelegíveis por oito anos. Ministros do TSE, porém, suspenderam a inelegibilidade do prefeito no mês seguinte.
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