Lula é uma das mãos que balançam o berço de Pablo Marçal
Talvez a solução seja uma espécie de Procon eleitoral. Um programa que proteja as eleições e os eleitores de arruaceiros políticos
Poucas frases se tornaram tão célebres na política – pela objetividade e simplicidade – quanto “É a economia, estúpido”, ou “The economy, stupid“, no original, cunhada por James Carville, estrategista de campanha do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, em 1992. A mensagem chega a ser constrangedora, tamanha sua obviedade, que até nos faz pensar: como não enxerguei isso antes?
Há duas décadas, mas nos últimos dez anos, especialmente, o vigor e a capacidade de destruição da onda antipolítica, que varre as democracias ocidentais, parecem só aumentar. A internet e a onipresença das redes sociais têm servido como poderosos agentes catalisadores, e o know how a cada nova personagem bem-sucedida, que é transmitido adiante, aprimora a mensagem e a disseminação, aumentando o estrago.
A eleição de Donald Trump, em 2016, já como consequência desse “tsunami” e também já carregando bem-sucedidos métodos de desinformação, impulsionamento de mensagens de ódio, fake news e embates abaixo da linha da cintura, abriu de vez as portas do inferno. Mas autocratas mundo afora, como Putin, Xi Jinping, Erdogan, Orbán e até mesmo Nicolás Maduro já eram useiros e vezeiros no método, não custa lembrar.
É a política, estúpido
São tantos – e não param os novos exemplos – os “políticos” que adotam a antipolítica como forma de fazer… política, primeiro dizendo-se não-políticos, para, em seguida, pregarem a destruição da mesma, o que por si só já deveria desqualificá-los, que Pablo Marçal, o mais novo “causador” do momento, não chega a surpreender. O que surpreende, em verdade, é o grau de virulência empregado e o desrespeito total às leis.
Marçal escalou a tal ponto o vale tudo e vem sendo, ao menos por ora, tão bem-sucedido, que, em dois anos, nas eleições de 2026, viveremos um caos generalizado. O pior é que gente como ele – e Bolsonaro, Nikolas e afins – recebe de bandeja, do mundo político “convencional”, munição farta e barata para guerras apocalípticas. É a nojeira, que enoja a sociedade, praticada nos Poderes, a força motriz dos incendiários.
A cada Lula solto e eleito, a cada Xandão abusando da toga, a cada Sérgio Cabral e Marcelo Odebrecht curtindo a vida adoidado, e a cada Janones, Gleisi e Boulos tencionando o cabo (defendendo terroristas e ditadores, negando a corrupção que seus pares praticam etc.), somados às dificuldades cada vez maiores de uma “vida feliz” – e tome ira e frustração -, mais arruaceiros políticos teremos por aí.
Programa de Proteção e Defesa do Eleitor
Em campanha por Boulos, ao seu lado, Lula atacou Marçal e o comparou a Collor e Jânio, por ele dizer que “não é político”. Já Boulos vociferou que não permitirá “um bandido” chegar à prefeitura de São Paulo. Quando um condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, de um lado, e um invasor de propriedade, de outro, atacam Marçal – também um já condenado – reforçam o bem-sucedido discurso antissistema.
A razão de ser de Pablo Marçal, em grande medida, é Lula. Ou Boulos. Ou qualquer um que tenha poder e faça péssimo uso dele. É a política, estúpido! Ou a má política – sim, existe a boa, ainda que rara. A Justiça eleitoral, a pedido de Tabata Amaral, suspendeu a campanha (ilegal) de Marçal nas redes sociais – com razão -, e a consequência será ainda mais engajamento a seu favor. Eis a dificuldade de combater esses tipos.
Talvez a solução seja uma espécie de Procon eleitoral. Um programa que proteja as eleições e os eleitores de gente como Marçal. O diabo é que teria de proteger, também, de ladrões. E de falsos propagandistas. E de mentirosos. Ou seja, de 90% dos políticos do país. Só um código eleitoral muito sério e rígido seria capaz de organizar as campanhas. O diabo é que, para isso, precisaríamos de gente igualmente séria e rígida no Legislativo.
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