Liberal no discurso, desenvolvimentista na prática
Paulo Guedes assumiu o Ministério da Economia, em 2 de janeiro, defendendo a abertura econômica, a privatização das estatais e a simplificação dos impostos. Mas o choque liberal ficou no papel, segundo especialistas...
Paulo Guedes assumiu o Ministério da Economia, em 2 de janeiro, defendendo a abertura econômica, a privatização das estatais e a simplificação dos impostos. Mas o choque liberal ficou no papel, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão.
Se a agenda de privatizações ficou só no discurso, o mesmo pode ser dito sobre a reforma tributária. O ministro prometia unificar até oito impostos, mas apresentou uma proposta que junta apenas PIS e Cofins, aumenta a alíquota a 12% – e ainda tenta criar a CPMF digital.
“Guedes segue o padrão Bolsonaro. Não faz muita coisa. Tem muita espuma, mas não tem muito resultado”, diz o economista Simão Davi Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP).
Para o diretor-executivo do Instituto Livres, Paulo Gontijo, falta respaldo político para Guedes tocar a agenda liberal. “Esse governo tem um problema de formulação, de articulação e de execução. A formulação da reforma tributária foi ruim. Na votação do Fundeb, a articulação foi ruim. Quanto tem proposta bem formulada, como a reforma administrativa, não anda porque enfrenta corporações.”
A prometida abertura econômica, que seria concomitante à redução do chamado “custo Brasil”, também ainda não teve avanço. “Foram feitas reduções pontuais em taxas de importação, que não precisam de aval do Mercosul. Mas os planos de reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco não foram para frente e ficou ainda mais difícil levá-los a cabo com a pandemia, que teve grande impacto na indústria brasileira.”
Parte da culpa pode ser pendurada na ala militar. “Dada a influência militar dentro do governo Bolsonaro, há uma visão nacional desenvolvimentista que é contra esse discurso de abertura. Existe um conflito latente, dentro do próprio governo, e o Guedes têm sido muito tímido.”
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