Leonardo Barreto na Crusoé: Lula, o invertebrado
Há uma intensificação recente de Lula migrando das mensagens institucionais para declarações pessoais improvisadas
“Pera aí, deixa ver se eu entendi… agora temos Bolsonaro nos costumes e Dilma na economia?”
O post jocoso que alguns publicam nas redes sociais fazem referência ao novo Lula conservador que emergiu nas últimas semanas. Não é novidade que o presidente corre atrás do eleitor antipetista, especialmente o evangélico, com campanhas de comunicação específica que reforçam as palavras “fé”, “milagre” e “Deus”.
Há uma intensificação recente de Lula migrando das mensagens institucionais para declarações pessoais improvisadas. Nos últimos dias, o presidente mandou uma beneficiária do Bolsa Família parar de ter filhos, disse que TV e teatro são para fazer arte e não ensinar “putaria”, criticou o STF após a decisão da descriminalização do porte da maconha e disse que não nomeava mais ministros negros ou mulheres porque são mais difíceis de encontrar com a competência necessária.
O cálculo por detrás da estratégia é típico de quem opera o modelo de distribuição espacial dos votos, clássico entre marqueteiros. Se Lula já tem o eleitor de esquerda — não deve surgir outro concorrente nesse campo até 2026 —, tem liberdade para avançar sobre o centro e até a centro/direita. Há um custo especialmente junto à esquerda identitária. Mas, novamente, Lula sabe que, mesmo insatisfeitos, eles não terão outra opção a não ser repetir “o L”.
É uma aposta válida e com alguma margem de segurança para ser feita, já que não existe risco de perder eleitores da esquerda. O problema de escolhas dessa natureza é a modulagem do tom: se passar do ponto, pode se tornar caricato.
Outro risco é contrariar a chamada “primeira Lei de Temer”, que faz referência ao ex-presidente Michel Temer, e que diz que um presidente não fala, se pronuncia. A mensagem é que a banalização da fala presidencial acaba desvalorizando-a, tornando-a cada vez mais sem efeito, com prejuízo para a autoridade do mandatário. A lei de Temer tem relação com a questão da escassez, segundo a qual quanto mais raro de se encontrar é uma coisa, mais valiosa ela é.
Há quem…
Leia mais em Crusoé
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)