Justiça reconhece “união estável virtual”
Essa lacuna jurídica também levanta dúvidas sobre a distinção entre namoro e união estável virtual
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A Justiça brasileira tem dado sinais de abertura ao reconhecimento de uniões estáveis formadas no ambiente digital, mas a falta de uma regulamentação clara expõe casais a incertezas jurídicas.
Em 2022, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) reconheceu uma união estável virtual entre dois homens que mantinham um relacionamento exclusivamente online por dois anos. A decisão, baseada em trocas de mensagens e depoimentos, ainda não reflete um consenso no Judiciário.
Desde então, a ausência de convivência física tem gerado debates. Parte dos juristas argumenta que o Código Civil não contempla esse tipo de união e que o reconhecimento judicial pode ser precipitado. A divergência entre as interpretações legais deixa brechas perigosas.
A pandemia de Covid-19 foi um ponto de virada, intensificando a forma como as pessoas se relacionam virtualmente. Com as restrições ao contato físico, muitos casais foram forçados a construir seus laços exclusivamente pela internet.
O ordenamento jurídico brasileiro, no entanto, ainda não definiu regras específicas para essas relações, o que gera decisões contraditórias nos tribunais. Enquanto alguns juízes aceitam evidências como registros digitais de conversas e postagens em redes sociais para comprovar a convivência pública e duradoura, outros mantêm uma visão mais cética, exigindo a comprovação da coabitação física.
Essa lacuna jurídica também levanta dúvidas sobre a distinção entre namoro e união estável virtual. Embora a coabitação não seja obrigatória para a configuração de uma união estável, a diferença central está no objetivo de constituir uma família. Namoros, por mais duradouros que sejam, não implicam necessariamente essa intenção.
Por isso, muitos casais optam por contratos de namoro para evitar disputas judiciais em caso de separação. Por outro lado, quem busca a formalização da união pode recorrer a uma escritura pública, estipulando regras patrimoniais e reconhecendo a relação como familiar.
No cenário internacional, a situação é igualmente complexa. Em diversos países da União Europeia, por exemplo, as uniões civis e parcerias registradas são reconhecidas legalmente, conferindo direitos semelhantes aos do casamento. No entanto, a aceitação de uniões formadas exclusivamente no ambiente virtual ainda é incipiente, e as legislações variam significativamente entre as nações.
Apesar das decisões favoráveis, o entendimento majoritário ainda trata o relacionamento virtual como uma fase preparatória, não como uma entidade familiar por si só.
O argumento predominante é que, embora os relacionamentos virtuais possam cumprir os requisitos de publicidade e continuidade, a ausência de um convívio físico dificulta a comprovação da intenção real de constituir uma família.
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Comentários (4)
ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO
01.02.2025 10:10Tal coisa também lembrou-me um bordão de programa humorístico: "se não estou ficando doido, alguém está".
Fabio B
01.02.2025 07:50que maluquice...
Marcelo Augusto Monteiro Ferraz
31.01.2025 14:50Mais um modismo estranho. Como diria um dos humoristas de um dos programa televisivos de Chico Anísio, "Há controvérsias, e ... não me venha com chorumelas!".
ISABELLE ALÉSSIO
31.01.2025 12:21