Josias Teófilo na Crusoé: O muito difícil e o muito fácil
O argentino Astor Piazzola conseguiu uma difícil fusão entre o popular e o virtuosístico que o equipara ao compositor Antonio Vivaldi
Em sua coluna semanal para Crusoé, Josias Teófilo comenta a audácia do músico argentino Astor Piazzolla ao modificar o tradicional tango, acrescentando a ele elementos do jazz e da música contemporânea, como a guitarra.
“Se você quer mudar alguma coisa na música, precisa aprender a lutar”, dizia Astor Piazzolla. Quando o compositor lançou suas músicas, que mudaram o tango, acrescentando a ele elementos do jazz e da música contemporânea, como a guitarra, enfrentou uma imensa oposição em seu país, a Argentina. Os defensores e intérpretes do tango tradicional ligaram para a sua casa, ofenderam a ele e sua família e o ameaçaram de morte.
Piazzolla lutou e venceu. Sua música é conhecida e tocada no mundo inteiro, não só em casas de shows, mas cada vez mais em salas de concerto — já o compararam a Antonio Vivaldi, devido à popularidade crescente de suas peças, incluindo suas Quatro Estações Portenhas — paralelas à de Vivaldi pela temática.
Não deixa de ser curioso que a mais abstrata das artes — a música — precise ser defendida com os punhos, por assim dizer. Mas é assim: por vezes é preciso lutar pela arte, que é eminentemente composta de bens simbólicos — o que parece um paradoxo.
É que os bens simbólicos são feitos de uma forma em detrimento de outra. Formam uma tradição e acumulam modos de fazer.
O próprio Piazzolla é assim, evidentemente: sua música incorpora a tradição do tango — para se ter uma ideia, ele aparece tocando bandoneon quando criança num filme com Carlos Gardel. O tango existe desde o século 19, Brahms compôs um tango e o colocou na sua quarta sinfonia, terminada em 1885.
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