Josias Teófilo na Crusoé: Conservadorismo à brasileira
Os maiores exponentes do conservadorismo no Brasil são pessoas que tem o temperamento oposto a uma suposta prudência
Em sua coluna semanal para Crusoé, Josias Teófilo traz nesta edição uma análise sobre a virtude da prudência conservadora que não se espanta, ou finge não se espantar, com um atentado contra um ex-presidente americano.
A coluna dessa semana de João Pereira Coutinho na Folha de S. Paulo revela o que para mim é um dos piores traços do que se entende por conservadorismo correntemente no Brasil.
No texto, chamado Não há inocentes, ele diz o seguinte: “Quando soube do atentado contra Donald Trump, acho que bocejei. Não é desrespeito. É sensação de déjà vu. Como fingir que estou espantado quando não estou? Se existe alguma novidade no atentado é ele não ter acontecido mais cedo —contra Trump ou até contra Biden”.
É preciso ter se tornado muito insensível para ver a cena em que um atirador mira na cabeça do ex-presidente e, numa fração de segundo, ele vira o rosto, evitando a bala, que ter destruído sua cabeça no meio de um comício com milhares de pessoas ao vivo — e fazer pouco caso.
E não adianta culpar a histeria das redes sociais, que é perfeitamente natural frente à gravidade do que aconteceu. É que os conservadores como João Pereira Coutinho incorporaram para o plano pessoal – e para sua autoimagem declarada – a tal da virtude da prudência conservadora. Eles estão acima dessas contingências diárias, como a de uma bala de fuzil passando de raspão na cabeça do ex-presidente.
Os maiores exponentes do conservadorismo no Brasil – não me refiro aos teóricos brasileiros do conservadorismo – são pessoas que têm o temperamento oposto a esse.
Não quero nem falar das figuras da nova direita – como Bruno Tolentino e Olavo de Carvalho, que são provavelmente duas das pessoas mais imprudentes que já pisaram sobre a Terra – mas os da velha direita mesmo, pessoas que se consolidaram como referências nesse campo político: Nelson Rodrigues e Gilberto Freyre (os dois, aliás, amigos íntimos).
O sociólogo, que defendia a monarquia como governo para o Brasil, era católico e anticomunista, não teve a biografia nem minimamente baseada na prudência. Freyre viu um companheiro ser morto por um tiro que era destinado a ele, teve a casa da família incendiada (também por questões políticas), foi embora do Brasil para se proteger e passou fome em Portugal.
Ele frequentava terreiros de…
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