E José Dirceu voltou a discursar no Congresso Nacional
Depois de 19 anos, ex-ministro de Lula, que tenta reabilitação política, usou a tribuna do Senado para defender ações do Legislativo para limitar a atuação das Forças Armadas
Condenado pelo mensalão e em desdobramentos da Operação Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu voltou ao Congresso Nacional nesta terça-feira, 2, depois de 19 anos. Durante sessão em defesa da democracia, o “homem forte” dos governos Lula defendeu o avanço de propostas para limitar as Forças Armadas.
Segundo o petista, é preciso “despolitizar” os quartéis para que episódios como o golpe militar de 1964 e os atos terroristas do 8 de janeiro não se repitam. “O Supremo Tribunal Federal já adotou uma decisão que não há poder moderador. O artigo 142, já por interpretação do próprio Supremo, não dá as forças armadas nenhum papel político”, disse Dirceu.
Nesta segunda-feira, 1º, o STF formou maioria para consolidar o entendimento de que a Constituição não prevê nenhum tipo de “poder moderador” às Forças Armadas. O placar está em 6 a 0 e o julgamento no plenário virtual segue até a próxima segunda-feira, 8.
“Não basta a despolitização e a volta aos quartéis. O comprometimento das Forças Armadas com o governo Bolsonaro e com 8 de janeiro está aí. Tanto é que agora passam a ser investigados mais de 60 militares de altas patentes. Cada vez mais [os militares] acumulam poderes”, disse Dirceu.
“Se não queremos voltar ao 8 de janeiro e ao 31 de março [de 1964], o Congresso Nacional tem que fazer algo. Existe na Câmara e no Senado dois projetos sobre defesa nacional que estão parados. É preciso que, publicamente, o Congresso Nacional debata o papel das Forças Armadas”, completou o ex-ministro.
Convite do líder do governo
A última vez em que Dirceu esteve no Congresso foi em 2005, quando teve o seu mandato cassado pelo plenário da Câmara em meio ao escândalo do mensalão. A volta do ex-ministro ao local ocorreu a convite do líder do governo Lula (PT) no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).
“Quase não aceitei [o convite], porque desde o dia da madrugada de 1º de dezembro [de 2005], quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato, que o povo de São Paulo tinha me dado pela terceira vez, eu nunca mais voltei ao Congresso Nacional”, disse José Dirceu na abertura de seu discurso.
Randolfe anunciou a presença do ex-ministro, que foi aplaudido pelos presentes na sessão. O evento não contou com parlamentares da oposição.
“Destaco e agradeço a presença, nesta mesa, deste companheiro, que agradeço a Deus a possibilidade de, na minha formação política, ter sido um dos formadores dos melhores momentos do Partido dos Trabalhadores. Meu querido José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-deputado federal, militante político da resistência à ditadura entre os anos de 1960 e 1970. Zé é uma honra, para nós, ter você conosco”, disse Randolfe.
Dirceu tenta reabilitação política
Com a volta de Lula (PT) ao Palácio do Planalto, o ex-ministro dos governos petista passou a se movimentar politicamente. No mês passado, reuniu autoridades como ministros do governo e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para um jantar de aniversário.
O próprio convite do jantar já era uma sina desse “retorno triunfal”. “São muitos anos de luta, tragam seu vinho, sua alegria e venham comemorar comigo. Espero vocês!”.
Em determinado momento do jantar, José Dirceu foi incitado a falar de política. Evitou fazer qualquer avaliação sobre a gestão Lula ou de seus aliados. Mas exaltou o que ele chamou de bons números da economia e a política econômica conduzida pelo colega de partido Fernando Haddad.
Ele ainda mantém diálogo frequente, por exemplo, com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, principal partido de oposição a Lula. Hoje em lados opostos, Dirceu e Valdemar dividiram cela no complexo da Papuda, em Brasília, após serem condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, no esquema de compra de apoio parlamentar.
Dirceu também ficou 1 ano e 9 meses preso em Curitiba (PR), como consequência das investigações da Lava Jato. Ele está impedido de disputar as eleições até esse ano, mas há especulações sobre ele voltar às urnas em 2026.
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