Jerônimo Teixeira na Crusoé: Leo Lins é indefensável
Nem por isso ele deve ser censurado e muito menos preso: a liberdade de expressão deve valer até para o que não merece ser defendido
Fui ao show de Gilberto Gil. Gostei demais: revisão de uma magnífica carreira musical, temperada pela melancolia da turnê em que o artista se despede do palco.
Assistimos ao show, minha mulher e eu, em 25 de abril, no Allianz Park, em São Paulo. Na apresentação do dia seguinte, Preta Gil subiu ao palco, amparada pelas irmãs, para cantar Drão com o pai (foto).
Para mim, Drão já havia sido um ponto alto da noite em que estávamos no estádio. Deve ter sido ainda melhor com a filha de Drão – apelido de Sandra Gadelha – no palco. A canção, como é bem sabido, trata da separação de Gil e Sandra.
Também é bem sabido que Preta sofre de câncer. De certo modo, essa sombra tornou mais luminoso o seu momento no palco.
Nos dias que se seguiram, encontrei nas redes sociais opiniões repulsivas sobre o episódio. Houve até quem falasse da doença como um castigo divino.
Você pode detestar a música de Gil. Pode ter aversão à sua figura pública e às suas ideias políticas.
Mas escarnecer do câncer de sua filha é indecente.
Nem engraçado foi
Agora leio que Leo Lins, em uma apresentação recente de seu stand up, fez piada sobre o câncer de Preta. E também invocou o castigo divino.
Indefensável.
Em 2023, quando o vídeo de um show de Lins foi retirado do YouTube por ordem judicial, eu escrevi, aqui em Crusoé, contra a censura.
Pensei em voltar ao tema quando ele foi condenado a oito anos de prisão pela mesma apresentação. Desisti porque não encontrei nenhum argumento novo.
Agora, O Globo relata que Lins arriscou a seguinte piada em um teatro paulistano:
“A Preta Gil veio me processar por causa de uma piada de anos atrás. Três meses depois que chegou o processo, ela apareceu com câncer. Bom, parece que Deus tem um favorito. Acho que ele gostou da piada. E pelo menos ela vai emagrecer.”
Para minha sensibilidade, que…
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