Jerônimo Teixeira na Crusoé: “Comédia tosca, censura burra”
Léo Lins conquistou seu público. Tem uma marca respeitável neste que é hoje o índice universal do sucesso – o número de seguidores no Instagram: 1,7 milhão. Eu, no entanto, não o conhecia até a semana passada...
Léo Lins conquistou seu público. Tem uma marca respeitável neste que é hoje o índice universal do sucesso – o número de seguidores no Instagram: 1,7 milhão. Eu, no entanto, não o conhecia até a semana passada. Poderia ter continuado nessa feliz ignorância, se uma juíza do Tribunal de Justiça de São Paulo não houvesse determinado, a pedido do Ministério Público, a censura de Perturbador, show de stand up gravado em Curitiba que Lins publicara no YouTube. Obrigado a retirar o vídeo da internet, Lins ainda por cima está impedido de fazer novas piadas com minorias e “grupos vulneráveis”.
Dormi no ponto e não vi o vídeo antes que ele saísse do ar. Nas notícias publicadas a respeito, encontrei um trecho em que Lins explica o “ranking de privilégios” que estaria hoje em vigor no Brasil: “Na base, está o velho. Em cima, está o nordestino pobre. Depois dele, está a mulher grávida, que tem assento especial. Em cima dela, está o gordo que também já tem assento especial. O gordo é uma grávida que se autoengravidou. Em cima do gordo, está o deficiente que tem assento, não pega fila. A prova disso é que um velho nordestino, gordo e deficiente virou presidente”.
É complicado julgar um comediante sem vê-lo (e não há como vê-lo, pois foi censurado). O stand up depende bastante da postura corporal, da modulação de voz e até das pausas que o comediante faz para deixar o público rir. Mesmo assim, não concebo talento performático capaz de salvar da mediocridade o texto citado acima. Essa história de gordo que se autoengravida parece piada que o coleguinha chato conta no recreio da quinta série. E o punchline igualmente pueril sobre a barriga e a idade de Lula está longe de se qualificar como humor político.
Matérias jornalísticas sobre o caso – muitas delas apoiando tacitamente a censura – citam gracinhas preconceituosas que o humorista fez sobre negros, judeus, autistas, idosos. Desse conjunto fragmentário, me fica a impressão de que Lins tem uma fixação em falar de coisas que são socialmente interditas ao humor – da escravidão ao Lula (não se deve fazer piada sobre o presidente, pois não é hora de criticar o PT!). Lins só não tem nada de especial a dizer sobre esses temas. É até covardia fazer essa comparação, mas lá vai: Dave Chappelle, o mais cancelado dos humoristas americanos, faz humor ácido sobre temas sensíveis como a transexualidade e as preferências eróticas de Michael Jackson. Muito agudo em sua crítica social, ele fala como um adulto que se dirige ao público adulto. Lins apenas busca piadas toscas em torno dos tabus de certa esquerda, como um garoto que diz palavrão na frente das visitas só porque papai o proibiu de fazer isso. Quem gosta dessas bobagens que me desculpe: não tenho respeito por esse tipo de comédia.
Mas respeito ainda menos quem se ofende com Lins. E desprezo quem deseja calá-lo.
No jardim de infância do progressismo dodói, entre uma aulinha de descolonização de privilégios e uma oficina de cancelamento, os militantes mirins ficaram muito chateados com Fabio Porchat porque ele publicou dois tuítes em defesa de Léo Lins. Ou assim eles entenderam: na verdade,…
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