Janja se junta a Felipe Neto para xingar Elon Musk: passou dos limites?
O Janjismo ofusca quem batalhou para conquistar seu espaço, trocando esforço e mérito por influência matrimonial
O governo Lula enfrenta uma encruzilhada: é hora de decidir qual será o papel oficial da primeira-dama, Janja. A cada novo episódio, sua presença política ofusca figuras com mérito e deixa uma pergunta incômoda no ar: o que realmente representa o feminismo que ela prega? Até onde vai a tolerância com o “Janjismo”, um movimento que parece subverter tudo o que foi conquistado por mulheres através de trabalho e esforço?
O G20 foi o ápice dessa desconexão. Margarete Menezes, ministra da Cultura e uma das maiores cantoras do Brasil, foi deixada de lado para que Janja assumisse o protagonismo no Janjapalooza. A escolha não é apenas simbólica, mas um golpe na mensagem de valorização das conquistas femininas que deveria nortear um governo que se diz comprometido com a igualdade.
Vale lembrar: quando Gilberto Gil ocupava o mesmo cargo, durante o primeiro governo Lula, ele era a figura central em eventos culturais internacionais. Representava o Brasil com talento e legitimidade, participando de fóruns como a ONU e de espetáculos culturais. Dona Marisa, então primeira-dama, jamais reivindicou esse espaço. Hoje, o cenário se inverte: Margarete é empurrada para o escanteio enquanto Janja assume os holofotes, sem nenhuma justificativa além de sua posição como esposa do presidente.
Esse contraste entre Gil e Margarete, entre Marisa e Janja, revela muito sobre o que o Janjismo significa na prática. O movimento despreza a ideia de que mulheres alcancem seus espaços pelo mérito. No lugar disso, tenta reviver uma lógica arcaica: o que importa é com quem você se casou.
Janja parece admirar esse modelo que viu de perto em suas viagens ao Oriente Médio, onde as esposas de ditadores posam como símbolos de glamour enquanto as mulheres do país permanecem sem direitos. A diferença é que lá, pelo menos, o sistema é assumido. Aqui, tenta-se rebatizá-lo como feminismo.
E agora, em mais um episódio público, Janja se junta a Felipe Neto para atacar Elon Musk. A questão é simples: se quer protagonismo político, ela precisa ter responsabilidade. E se não tem responsabilidade, por que está assumindo esses espaços?
Essa indefinição é prejudicial não apenas para o governo Lula, mas para todas as mulheres brasileiras. O Janjismo ofusca quem batalhou para conquistar seu espaço, trocando esforço e mérito por influência matrimonial.
O mais perverso é a subversão do conceito. Parece bobagem, mas não é e tem consequências graves. É perverso enfiar goela abaixo das mulheres, como exemplo de independência feminista, uma mulher que adota o sobrenome do marido e só ocupa o espaço dado por ele.
Não sei se classifico de vergonhoso ou nojento o comportamento de mulheres com espaço na mídia que chancelam essa ladainha machista. Eu respeitaria se deixassem a hipocrisia de lado e assumissem admirar que a mulher abandone tudo para seguir o marido e esteja feliz com o espaço que ele decidir dar a ela.
Muitas mulheres gostariam de ser independentes mas não são. Não têm orgulho da escolha consciente de viver a vida de seus maridos. Deveriam ter, muitas mulheres fazem essa escolha de forma consciente, amorosa e orgulhosa. As que não o fazem precisam arrumar uma justificativa.
Entendo subterfúgios psicológicos utilizados por pessoas que valorizam um comportamento enquanto praticam outro. Mas isso não pode se tornar uma política de Estado. As meninas e mulheres brasileiras precisam saber que são sim iguais aos homens em dignidade e direitos. E que não terão seus caminhos profissionais ofuscados ou abalados porque a mulher do chefe cismou que precisa aparecer.
Passou da hora de Lula dar uma situação oficial a Janja. Ou ela tem função no governo – com ônus além do bônus – ou ocupa o lugar de primeira-dama, título honorífico, que não faz parte do governo e não tem direitos por não ter deveres.
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