Ivan Sant’Anna na Crusoé: Mercados futuros e suas características – Metais preciosos
Os contratos de ouro tinham enorme liquidez por serem a única maneira de as pessoas físicas e jurídicas se protegerem contra a inflação
Em sua coluna semanal para Crusoé, Ivan Sant’Anna traz para este edição mais uma de suas histórias pelo mercado financeiro, desta vez ele fala de quando iniciou nas commodities.
Em meados de 1983, após ter sido, pela ordem, operador de câmbio, ações e open market, me iniciei nas commodities.
Comecei pelo mercado brasileiro de ouro futuro, então negociado na Bolsinha (Bolsa de Mercadorias do Estado de São Paulo).
As unidades eram barras de 250 gramas; podia-se operar os chamados futurões, contratos com vencimentos longos.
A formatação dos preços era uma fórmula que levava em conta a cotação do ouro na Comex, em Nova York, e o preço do dólar negociado no mercado paralelo.
Os contratos de ouro tinham enorme liquidez por serem a única maneira de as pessoas físicas e jurídicas se protegerem contra a inflação, já que o governo, na maior cara de pau, costumava expurgar, da correção monetária oficial, determinados produtos que subiam muito.
Só algum tempo mais tarde é que passei a operar ouro em Nova York, cujo mercado tinha as mesmas características que tem hoje.
Lá, a unidade é de 100 onças troy (cada onça equivale a 28,3495 gramas) e o mercado sempre trabalha em contango (preços dos futuros mais altos do que o do spot e futuros longos mais altos do que os futuros curtos).
Neste momento, a onça do ouro está sendo cotada a US$ 2.632,10.
Desde que, em 1971, o presidente Richard Nixon abandonou a fixação do preço do ouro, que era determinado pelo acordo de Bretton Woods em US$ 35.00 a onça troy, o mercado já subiu 7.520%. No mesmo período, a inflação americana foi de 3.080%.
Nesta data, o valor bruto de um contrato futuro de ouro é de US$ 263.210,00. Como a CME exige uma margem de garantia de US$ 11.000,00, a alavancagem é de 24 vezes.
Outro metal negociado na CME em Nova York é o da prata.
Essa commodity tem dupla característica: por um lado, também é metal precioso; por outro, industrial.
O grande momento da prata ocorreu no final de 1979 e início de 1980, quando os então homens mais ricos dos Estados Unidos, os irmãos Hunt (Nelson Bunker Hunt e William Herbert Hunt), decidiram executar um “corner“.
Para quem não sabe o que é corner, transcrevo abaixo um trecho de meu livro Os mercadores da noite, página 294 da edição da Inversa:
“Os grandes especuladores, através dos tempos, sempre almejaram um corner. É a mais fascinante e lucrativa das operações de mercado. O corner existe quando uma pessoa ou instituição compra determinado ativo em quantidade maior do que a existente daquele ativo. Por exemplo, se alguém consegue comprar um bilhão de dólares de determinada série de obrigações do Tesouro, e só foram emitidas 900 milhões daquela série, esse alguém conseguiu estabelecer um corner. Nessas ocasiões, as cotações sobem a níveis estratosféricos.”
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