Governo trabalha contra mulheres, diz associação
O Ministério da Saúde lançou nova campanha destinada ao público feminino omitindo as palavras “meninas” e “mulheres” em suas comunicações. A iniciativa, que distribui gratuitamente absorventes nas farmácias populares, foi duramente criticada pela Associação MATRIA, que representa mulheres biológicas.
O Ministério da Saúde lançou nova campanha destinada ao público feminino omitindo as palavras “meninas” e “mulheres” em suas comunicações. Outros ministérios, como o do Desenvolvimento e Assistência Social, reproduziram as peças publicitárias e textos.
A iniciativa, que distribui gratuitamente absorventes nas farmácias populares, foi duramente criticada pela Associação MATRIA, que representa mulheres biológicas. A entidade expressou descontentamento com o apagamento do gênero feminino em questões específicas ao sexo feminino.
A campanha, divulgada nesta quarta, 24, destina-se a “pessoas inscritas no CadÚnico”, abrangendo faixas etárias de 10 a 49 anos, estudantes de baixa renda e pessoas em situação de rua, sem referência ao sexo feminino. A associação aponta que, apesar de visar a inclusão, o esforço acaba por negligenciar a realidade biológica das mulheres, tornando-se uma manobra linguística para atender demandas de homens que reivindicam a nomenclatura “mulher”.
A nota da associação menciona um cartão da campanha com a imagem de uma pessoa de aparência masculina, identificada como do sexo feminino pelo contexto. A associação argumenta que tal inclusão, embora reconheça implicitamente o sexo biológico, pode ser um gatilho doloroso para indivíduos em conflito com sua identidade de gênero.
Essa abordagem, segundo a associação, é vista como um retrocesso na representação da identidade feminina, um movimento que desvaloriza e desumaniza as experiências únicas das mulheres biológicas. A entidade também critica a adesão do governo atual à “cultura woke”, que, segundo eles, privilegia demandas masculinas em detrimento das femininas.
Uma matéria exclusiva de O Antagonista já havia abordado o uso do termo “pessoas que menstruam” pelo Ministério da Saúde, destacando a preocupação com a “Ideologia de Gênero” em textos oficiais. O governo Lula, que se elegeu com forte apoio feminino, agora enfrenta críticas de suas próprias bases eleitorais, indicando um possível desalinhamento com as expectativas de seu eleitorado.
Para os adeptos da visão radical ideológica da cultura “woke”, mulheres biológicas transsexuais, que se identificam como homens, devem ser tratadas como homens, portanto a mera pressuposição de que apenas mulheres possam menstruar seria uma “transfobia”.
Ao assumir este discurso em textos oficiais, o governo federal levanta dúvidas sobre como segue o princípio da impessoalidade na administração pública. O Artigo 37 da Constituição Federal diz que a administração pública direta e indireta deve seguir seguintes princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Diz a nota:
“Em 24/01/2024, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, na esteira de outros ministérios, divulgou campanha sobre dignidade menstrual e distribuição gratuita de absorventes nas farmácias populares.
A campanha, no entanto, como diversas outras deste Governo (incluindo a do Ministério das Mulheres sobre o mesmo tema), não menciona uma única vez as palavras relativas ao público-alvo de tal campanha: meninas e mulheres.
Como demonstram as imagens acima (alguns dos cards da postagem de instagram), a campanha é para “pessoas inscritas no cadúnico”, “pessoas com idade entre 10 e 49 anos” que sejam “estudante de baixa renda” ou estejam “em situação de rua” e para pessoas “que sofrem restrições pela falta de dignidade menstrual”. Jamais é mencionado que apenas meninas e mulheres podem ter todas essas características.
Em que pese discurso atual de que o apagamento das palavras referentes ao sexo feminino serviria para inclusão daquelas que não se identificam com os símbolos da feminilidade, sabemos que tal manobra nada tem a ver com a pequeníssima parcela do sexo feminino que se autodeclara “homem trans”, “transmaculino” ou “não-binária”, que sabe perfeitamente ser do sexo feminino.
A postagem acima inclui, no meio do card marcado como 2/5, foto de pessoa que exibe sinais atualmente associados à masculinidade (cabelo curto, boné, camiseta e colar “masculinos”, barba rala) mas que, pelo tema da postagem, necessariamente é do sexo feminino. Sua inclusão na foto reconhece de forma inegável seu sexo o que, poderia-se inclusive argumentar, pode ser um doloroso gatilho de disforia para quem vive em conflito com seu corpo sexuado de mulher.
O objetivo do apagamento das palavras referentes ao sexo feminino é atender a desejos de uma parcela do sexo masculino que quer reivindicar para si a nomenclatura “mulher”: apenas ao dissociar tal palavra de tudo que é exclusivo ao sexo feminino, como menstruar, gestar, parir ou amamentar, é que essa manobra linguística se torna possível. Através da mudança da linguagem (vide o mantra constante de “mulher trans é mulher”), o transativismo espera também alterar a percepção da população brasileira sobre algo inalterável: o sexo e o fato de sermos uma espécie dimórfica, como a maioria das demais espécies mamíferas.
Infelizmente há uma adesão total do Governo atual a essa ideia misógina de que mulheres não somos seres humanos completos do sexo feminino mas sim uma “identidade”, uma “performance”, um conjunto de “estereótipos” ou “intervenções estéticas” que poderiam ser adotados por qualquer um e, com esse tipo de postagem está trabalhando a serviço de interesses unicamente masculinos.
Tal constatação é especialmente chocante se considerarmos que o governo Lula se elegeu com base no voto de mulheres (e de pessoas pobres, com quem campanhas que usam termos recém inventados absolutamente não se comunicam). Em sua campanha, bem como na de seus aliados informais (como, por exemplo, o PSOL), foram criados comitês de MULHERES, mobilizadas MULHERES, sem qualquer menção a outra palavra que descrevesse tal grupo. A alteração que estamos vendo após a eleição configura, aos nossos olhos, estelionato eleitoral e abandono político de sua sua base eleitoral, com consequências que fatalmente serão sentidas no futuro. Ou o governo pretende se reeleger apelando para o voto das “pessoas que menstruam”?”
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