Governo Federal oficializa tombamento de antigo prédio do Dops
Espaço na Rua da Relação será transformado em centro de memória sobre a repressão política e social no Brasil
O Ministério da Cultura ratificou a proteção definitiva do imóvel da antiga Repartição Central de Polícia, situado no Centro do Rio de Janeiro. A medida foi publicada no Diário Oficial da União após a validação do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A decisão assegura a preservação do edifício por seus atributos históricos e elementos de belas artes. O planejamento do governo federal indica que a estrutura funcionará futuramente como uma unidade voltada à preservação da memória nacional.
Histórico institucional e valor arquitetônico
Inaugurado em 1910, o prédio possui traços do estilo eclético e teve o projeto assinado pelo arquiteto Heitor de Mello. A obra integrou o processo de reformulação urbana da capital coordenado pelo prefeito Pereira Passos no início do século passado.
Ao longo do século XX, o edifício abrigou instituições policiais com foco na contenção de movimentos sociais. O Departamento de Ordem Política e Social (Dops-RJ), estabelecido no Estado Novo, operou no endereço de forma contínua entre 1962 e 1975.
Nesse intervalo, o local serviu como base para a repressão política durante a ditadura militar. Registros oficiais documentam o uso das instalações para a realização de detenções, interrogatórios e práticas de tortura contra cidadãos.
Preservação de acervos e direitos humanos
O imóvel também guardou documentos de opositores políticos e itens confiscados de religiões de matriz africana. O conjunto, atualmente denominado “Nosso Sagrado”, foi retirado de terreiros de Candomblé e Umbanda em ações policiais.
Essa coleção permaneceu sob a guarda do Museu da Polícia Civil até 2020, quando ocorreu a transferência para o Museu da República. A mudança do acervo buscou promover uma reparação histórica diante da perseguição religiosa ocorrida no passado.
O prédio carioca integra agora uma lista de 49 endereços mapeados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Esses pontos registraram mortes, ocultação de cadáveres e outras violações de direitos fundamentais durante o regime militar.
O mapeamento federal inclui sedes policiais em cidades como Recife, Vitória e São Paulo. Estão presentes no inventário unidades do Doi-Codi, hospitais-colônia e locais de resistência, como a Catedral Metropolitana de São Paulo.
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