‘Gilmarpalooza’ é criticado por “alguns ministros” do STF
Eles vazam seus incômodos para a imprensa, mas evitam o assunto em público
O Gilmarpalooza, criticado desde a raiz em O Antagonista, agora é criticado também, embora indiretamente, por “alguns ministros” do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo André Mendonça e Edson Fachin, que, como mostramos, já havia cobrado dos colegas “a virtude da parcimônia”. Assim como os dois, Kassio Nunes Marques, Cármen Lúcia e Luiz Fux não quiseram ir à festa da casta longe do povo.
Carolina Brígido e Matheus Coutinho registram no UOL:
“Apesar de ter arrastado a maioria do STF para Lisboa, o evento organizado por Gilmar Mendes é alvo de críticas de alguns ministros. Em caráter reservado, integrantes da Corte torcem o nariz para o Gilmarpalooza, como ficou popularmente conhecido o Fórum de Lisboa.
Observação relevante: nos anos anteriores, o evento se chamava Fórum Jurídico de Lisboa. A edição de 2024 conta com tantos protagonistas da política nacional que os organizadores resolveram deixar o título mais abrangente.
Parte do incômodo de uma ala do STF é causado justamente por esse motivo e pela proporção que tomou o fórum, um grande encontro de integrantes dos três Poderes com empresários e advogados representando variados interesses e com uma intensa agenda de almoços e jantares paralelos ao evento principal para tentar atrair autoridades.
Segundo interlocutores do ministro André Mendonça, ele declinou do convite de Mendes porque prefere comparecer a eventos mais restritos ao mundo acadêmico do direito. O ministro é professor na Universidade de Salamanca, uma das mais tradicionais da Espanha e onde ele fez seu doutorado.
(…) O evento de Mendes acabou provocando o encerramento antecipado do semestre de trabalho no Supremo, o que também gerou incômodo para alguns ministros.”
Incomodados?
O que não fica claro é se esses ministros que vazam incômodos à imprensa estão realmente incomodados com a politização do STF e com sua abertura ao lobby empresarial e advocatício, ou apenas com o escancaramento desses elementos já evidentes nos últimos anos.
Além da presença de representantes de doze empresas com processos no Supremo, o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, teve sua viagem bancada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), blindada por Gilmar contra uma investigação da própria PF.
Como comentou a Transparência Internacional Brasil no X:
“Diretor da PF foi ao Gilmarpalooza financiado pela FGV, investigada recentemente pela PF.
Não faltaram políticos e empresários investigados no evento. Faltaram sim acadêmicos da FGV nos debates. Já devem saber o que acontece em Lisboa.”
“Nós não somos juízes eleitos”
No julgamento sobre a descriminalização da maconha, Fux chegou a rebater a matemágica de Toffoli, que, em defesa da legitimidade do STF para decidir, havia contabilizado 100 milhões de votos para os próprios ministros:
“Nós não somos juízes eleitos. O Brasil não tem governo de juízes. Num Estado Democrático, a instância maior é o Parlamento.”
A questão agora é quem do STF vai criticar pública e diretamente o Gilmarpalooza por aquilo que é? A parcimônia na crítica ao descaramento total não soa tão virtuosa assim.
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