Frustrado com ex-aliados, Lula dispara contra o Centrão
Quando saiu da cadeia e viu suas condenações serem anuladas pelo STF, Lula imaginou que voltaria para os braços do povo, da imprensa e de parte significativa do mundo político. Ele estava parcialmente certo. Hoje, o ex-presidente venceria as eleições...
Quando saiu da cadeia e viu suas condenações serem anuladas pelo STF, Lula imaginou que voltaria para os braços do povo, da imprensa e de parte significativa do mundo político. Ele estava parcialmente certo.
Hoje, o ex-presidente venceria as eleições. Todas as pesquisas divulgadas mostram o petista liderando as intenções de voto e à frente em quaisquer possíveis cenários de segundo turno, a despeito do fôlego que Jair Bolsonaro vem tomando.
Até dois meses atrás, muita gente no entorno de Lula dava a vitória em outubro como certa. Pipocaram notinhas nos jornais, inclusive aqui em O Antagonista, sobre “o empenho do PT em superar o clima de já ganhou”. Ao mesmo tempo, o ex-presidente, que não gosta de delegar tarefas e se considera a única liderança nacional da esquerda, rifava aliados nos estados, em nome de seu projeto pessoal de poder.
Diante do desastre da gestão Bolsonaro e de, entre outras coisas, a desumanidade do atual presidente durante a pandemia da Covid, Lula também pensou que fosse atrair, sem muito esforço, apoios políticos mais ao centro. Era a tal “grande frente ampla contra o bolsonarismo e tudo o que ele representa”. Lula, porém, na largada, só conseguiu o óbvio: PSB, PSOL, PCdoB, Rede e PV, além do Solidariedade, de Paulinho da Força, que ajudou a derrubar Dilma Rousseff.
Assim que a pré-candidatura de Lula ficou evidente, esperava-se que partidos como PSD e MDB fossem aderir de maneira mais explícita ao projeto petista de retorno ao poder. Leitores deste site devem se recordar que se falava até na possibilidade de PP e PL, que colocaram Bolsonaro no colo, liberar bancadas e flertar com o ex-presidente. Nada disso aconteceu por inteiro, pelo menos até aqui.
Lula, então, passou a disparar contra o Congresso, querendo acertar, principalmente, claro, no Centrão, que hoje está com Bolsonaro, mas que um dia foi dele. O petista intensificou suas críticas públicas às reformas aprovadas pelo Parlamento desde o impeachment de Dilma, sobretudo a trabalhista. Demonizou o nojento orçamento secreto (pelos motivos errados), a principal causa de alegria do Centrão. E, por último, em evento da CUT na segunda-feira (4), sugeriu que parlamentares tivessem sua “tranquilidade incomodada”. Ele falou em “mapear endereços” de deputados e “conversar com a mulher e o filho deles”.
Com essa postura — que só revela o “Lula raiz” –, o petista facilita a escolha da turma do Centrão, que, em a Terceira Via, de fato, não deslanchando, vai se dizer obrigada, coitadinha, a seguir com o atual governo, apesar de tudo. A execução recorde de emendas poderá ajudar parlamentares fisiológicos a justificar em suas bases eleitorais a ligação com Bolsonaro, mas, a esta altura, já há muitos deles com ódio daquele que, também com ódio, se vendeu como alguém capaz de derrotar o ódio.
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