“Foi uma atrocidade”, diz sobrinha de paciente morta após estudo com proxalutamida
A família da professora Elessandra Mota registrou boletim de ocorrência depois da morte da tia Zenite Mota, diz o Uol. Ela fez parte de um grupo de pacientes que tomou vários medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid, incluindo a hidroxicloroquina e a proxalutamida...
A família da professora Elessandra Mota registrou boletim de ocorrência depois da morte da tia Zenite Mota, diz o Uol.
Ela fez parte de um grupo de pacientes que tomou medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid, incluindo a hidroxicloroquina e a proxalutamida. Zenite estava internada no Hospital José Mendes, em Itacoatiara, a 270 km de Manaus. Elessandra relatou ao portal que várias pessoas morreram durante os procedimentos.
“Quando colocavam a máscara de inalação [de hidroxicloroquina], elas se debatiam e morriam assim. […] Nós confiamos. Jamais que a gente desconfiou de que uma equipe médica do hospital faria uma coisa dessas [usar remédios não comprovados contra a doença]. Se puxar os prontuários dos pacientes vão ver. Aquilo foi uma atrocidade.”
Ela também disse que as famílias dos pacientes não foram avisadas sobre o estudo e receberam informações de que a proxalutamida “estava salvando a vida dos pacientes”. Com isso, assinaram papéis autorizando o uso dos medicamentos.
“Todos morreram. Não sobrou um, no período de estudos que a gente não sabia [que era estudo]. São famílias de pessoas muito simples. Não sabiam e acho que até hoje nem sabem o que aconteceu de verdade.”
Usada em testes para câncer de próstata, a proxalutamida — “a nova cloroquina de Bolsonaro“ — foi inserida em um tratamento experimental patrocinado pelo plano de saúde e rede de hospitais Samel. Como mostramos, no início de setembro, a Anvisa suspendeu a importação e uso de produtos contendo a substância em pesquisas científicas.
O estudo é apurado pelo Ministério Público Federal do Amazonas, pelo Conselho Regional de Medicina e pela polícia. Ao apresentar a pesquisa, em uma das unidades da Samel em Manaus, o médico Flávio Cadegiani teria omitido ao menos dois terços dos óbitos entre os pacientes que tomaram a proxalutamida. Ele afirmou ao Uol que as divergências na divulgação do levantamento ocorreram devido aos diferentes critérios adotados como parâmetro.
Em nota, o Grupo Samel informou que “só pode responder pelos pacientes que utilizaram o medicamento em suas unidades hospitalares, que foram devidamente acompanhados”. Sobre o boletim de ocorrência, o delegado Paulo Barros, da cidade de Itacoatiara, disse que o inquérito não foi concluído e que deve ouvir nos próximos dias os médicos que atuaram no hospital no período que as medicações foram administradas.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)