Exclusivo: parecer de Moro diz que Vale ocultou do mercado riscos de negócio bilionário na Guiné Exclusivo: parecer de Moro diz que Vale ocultou do mercado riscos de negócio bilionário na Guiné
O Antagonista

Exclusivo: parecer de Moro diz que Vale ocultou do mercado riscos de negócio bilionário na Guiné

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 03.12.2020 20:37 comentários
Brasil

Exclusivo: parecer de Moro diz que Vale ocultou do mercado riscos de negócio bilionário na Guiné

O ex-ministro Sergio Moro estreou na iniciativa privada, no mês passado, produzindo um parecer para o empresário israelense Benjamim (Beny) Steinmetz, que trava uma disputa judicial de US$ 2 bilhões com a Vale pelo polêmico contrato de exploração da mina de Simandou, na Guiné. O Antagonista obteve cópia do documento, de 54 páginas, intitulado "Parecer sobre a falsidade e a ocultação fraudulenta de fato relevante em comunicações ao mercado de valores mobiliários - crimes e tese"...

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 03.12.2020 20:37 comentários 0
Exclusivo: parecer de Moro diz que Vale ocultou do mercado riscos de negócio bilionário na Guiné
Foto: Adriano Machado/Crusoé

O ex-ministro Sergio Moro estreou na iniciativa privada, no mês passado, produzindo um parecer para o empresário israelense Benjamim (Beny) Steinmetz, que trava uma disputa judicial de US$ 2 bilhões com a Vale pelo polêmico contrato de exploração da mina de Simandou, na Guiné.

O Antagonista obteve cópia do documento, de 54 páginas, intitulado “Parecer sobre a falsidade e a ocultação fraudulenta de fato relevante em comunicações ao mercado de valores mobiliários – crimes e tese”.

Ao longo da análise, baseada numa notícia-crime apresentada por Beny ao MP do Rio, o ex-juiz da Lava Jato repete o modelo didático de suas sentenças, numerando cada item a ser considerado, com referências legais e bibliográficas pontuais.

A conclusão, ainda que em tese, é de que a cúpula da Vale, na gestão de Roger Agnelli, ignorou os riscos inerentes ao negócio e sonegou ao mercado informações estratégicas. “Mesmo diante das suspeitas e dos riscos decorrentes, a Vale S/A preferiu, segundo a Consulente, ignorá-los e prosseguir na celebração do contrato.”

“Embora as conclusões definitivas demandem aguardar os desdobramentos das investigações decorrentes da notícia-crime, é possível falar-se, em tese, de violação dos deveres de comunicação e transparência pela Vale S/A aos seus acionistas e ao mercado quanto às reais condições da celebração da joint venture com a BSGR e da própria rescisão”, escreve Moro.

O caso de Simandou é famoso no Brasil, pois foi motivo de um racha interno na direção da Vale e precipitou a queda de Roger Agnelli, morto num acidente aéreo em 2016.

O ex-presidente da mineradora foi um dos entusiastas do negócio fechado com Beny em 2010, mas nunca conseguiu explicar cláusulas suspeitíssimas e o pagamento antecipado de US$ 500 milhões ao israelense – sem qualquer garantia de que o negócio sairia do papel.

Em 2011, quando o presidente da Guiné, Alpha Condé, anulou a concessão, os problemas em torno do investimento começaram a vir à tona. Uma investigação preliminar apontou indícios de suborno na concessão das minas de Simandou a Beny, em 2008, no governo de Lansana Conté.

Agnelli ainda tentou salvar o negócio com apoio de Lula, mas foi inútil. A Vale, então, alegou que foi enganada e processou Beny numa corte arbitral britânica e obteve veredito favorável, com a imposição de uma indenização de US$ 2 bilhões que Beny deveria pagar à companhia. O israelense foi à Justiça americana, alegando a turma de Agnelli sabia de tudo.

A atuação de Moro num caso em que aparece o ex-presidiário pode ser uma ironia da vida, ou uma jogada do israelense para atrair a atenção da imprensa. Seja como for, a chancela de Moro na tese do empresário pesa.

Em seu parecer, o ex-juiz destaca logo de cara que o Ministério Público guinense desistiu de denunciar Beny e outras cinco pessoas por suborno por “não dispor de prova”. Mas, em 2010, quando a Vale fechou com o empresário, os indícios de corrupção eram conhecidos por seus executivos.

Havia, inclusive, outros riscos: a instabilidade política e, especialmente, a não ratificação pelo Parlamento da concessão da reserva de minério de ferro. Segundo Moro, a gestão da Vale sonegou todos esses dados nas comunicações ao mercado.

Diz o parecer:

“Os documentos internos da Vale S/A relacionados pela Consulente, incluindo mensagens eletrônicas trocadas entre seus executivos e terceiros envolvidos na due diligence, constituem elementos probatórios prima facie: a) de que a empresa tinha prévia e plena ciência dos elevados riscos pertinentes ao negócio; b) de que poderia perdê-los diante da insegurança política na Guiné; e c) de que a BSGR poderia ter obtido os direitos de concessão minerários mediante atos de corrupção e tráfico de influência.”

Os documentos também sugerem, segundo o ex-juiz, que a due diligence contratada pela Vale para avalizar o negócio foi “manifestamente falha”, com indicativos de que o objetivo “não era dissipar suas suspeitas sobre o negócio, mas obter um salvo conduto para nele prosseguir, ignorando os riscos existentes”.

“Os fatos trazidos pela Consulente – e que terão que ser confirmados na investigação – revelam que os executivos da Vale S/A envolvidos na celebração da joint venture com a BSGR para exploração da mina de Simandou não agiram segundo os deveres de integridade corporativa que lhe cabiam.”

Continua o ex-juiz: “Deveriam, em princípio, ter se recusado a celebrar o negócio já que suspeitavam que a BSGR teria adquirido os direitos de concessão do Governo da Guiné mediante suborno ou tráfico de influência. A investigação corporativa teria que ser ampla e abrangente, o que não ocorreu. A due diligence não pode ser contratada para servir como um subterfúgio para a realização do negócio ou como um álibi contra a responsabilização futura dos gestores da empresa. É inequívoco que a suspeita de que a concessão teria sido obtida por corrupção e suborno e os riscos decorrentes de revogação, constituíam fatos relevantes atinentes à celebração do contrato de joint venture com a BSGR para exploração dos direitos sobre Simandou e que, portanto, ela, a suspeita, e os riscos deveriam ter sido comunicados ao mercado e aos acionistas, diminuindo a expectativas de ganho em relação ao negócio e alertando aos investidores os riscos potenciais. Tais fatos, enfim, enquadram-se na definição do art. 157, §4º, da Lei n.º 6.404/1976.”

Moro conclui seu parecer fazendo referência a uma ação que corre na Corte Federal do Distrito Sul de Nova York, e na qual a Vale S/A, após ser instada a apresentar documentos sobre a aquisição dos direitos minerários em Simandou, informou que “teria destruído comunicações eletrônicas e arquivos eletrônicos de pessoas chaves envolvidas no negócio, inclusive de Roger Agnelli”.

“Se essa ação foi mesmo praticada pela Vale S/A, ela pode dificultar a investigação e a completa elucidação dos fatos. Segundo o Consulente, essa prática da Vale S/A contraria os deveres corporativos de conservação dos documentos da empresa estabelecidos na Lei norte-americana Sarbanes-Oxley e a qual ela estaria sujeita por negociar ações junto ao mercado de valores mobiliários daquele país: ‘a Lei Sarbanes-Oxley (SOx) estabelece para as companhias abertas o prazo de ao menos cinco anos como obrigatório para manutenção de documentos’. A lei vai além e ainda estabelece, na Seção 802(a), que a destruição deliberada de documentos para obstruir qualquer investigação por autoridades norte-americanas constitui crime sujeito a multa e a pena de prisão de até vinte anos.”

 

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

"Sem anistia!" Para Lula também?

Visualizar notícia
2

Crusoé: Comunista Flávio Dino é tudo, menos juiz

Visualizar notícia
3

Mancha misteriosa em imagem de santa intriga fiéis em Goiás

Visualizar notícia
4

Tropas russas cruzam inesperadamente rio Oskil, em Kharkiv

Visualizar notícia
5

Os fantasminhas da Embratur

Visualizar notícia
6

Mais uma frente contra o Janjapalooza

Visualizar notícia
7

Mercadão de sentenças nos tribunais brasileiros?

Visualizar notícia
8

Crusoé: O que pensa o presidente uruguaio eleito sobre Venezuela

Visualizar notícia
9

Prefeitura de SP reclama de "retrocesso" de Dino sobre cemitérios

Visualizar notícia
10

Kamala Harris e o fiasco financeiro de sua campanha de US$ 1,5 bilhão

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Bolsonaro emocionado ao som da sanfona

Visualizar notícia
2

Crusoé: O meme é a mensagem de Elon Musk

Visualizar notícia
3

Sabotagens e ataques: a guerra híbrida da Rússia contra a Europa

Visualizar notícia
4

App bet365 - Tutorial para baixar e instalar o aplicativo em 2024

Visualizar notícia
5

Pacheco fala em 'divergência respeitosa' com Arthur Lira

Visualizar notícia
6

(25/11) Cestas básicas do CRAS: benefícios e como solicitar

Visualizar notícia
7

Golpes contra empresários: Entenda as fraudes mais comuns e como evitá-las

Visualizar notícia
8

CCJ da Câmara volta a analisar PEC do aborto

Visualizar notícia
9

Meio-Dia em Brasília: Os próximos passos das investigações que miram Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
10

Moraes deve entregar indiciamentos da PF até amanhã à PGR

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Beny Steinmetz Guiné parecer Sergio Moro
< Notícia Anterior

Sucesso de Moro incomoda

03.12.2020 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Covid-19: Brasil registra 776 mortes em 24 horas, diz consórcio

03.12.2020 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Divaldo Franco (97) é internado e diagnosticado com câncer

Divaldo Franco (97) é internado e diagnosticado com câncer

Visualizar notícia
Marçal a caminho do União Brasil

Marçal a caminho do União Brasil

Deborah Sena Visualizar notícia
Bolsonaro emocionado ao som da sanfona

Bolsonaro emocionado ao som da sanfona

Visualizar notícia
Pacheco fala em 'divergência respeitosa' com Arthur Lira

Pacheco fala em 'divergência respeitosa' com Arthur Lira

Deborah Sena Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.