Especialista diz que “caos de Manaus é multifatorial” e não prevê situação semelhante para o resto do país
Bruno Filardi, diretor-clínico do Instituto do Câncer Brasil, disse a O Antagonista não compartilhar da avaliação de que a situação no Amazonas poderá ocorrer em outros estados em meio ao avanço da pandemia da Covid-19. Para o oncologista clínico, que é doutor em medicina e pós-doutor em imunopatologia molecular, "o caos de Manaus é multifatorial", incluindo...
Bruno Filardi, diretor-clínico do Instituto do Câncer Brasil, disse a O Antagonista não compartilhar da avaliação de que a situação no Amazonas poderá ocorrer em outros estados em meio ao avanço da pandemia da Covid-19.
Para o oncologista clínico, que é doutor em medicina e pós-doutor em imunopatologia molecular, “o caos de Manaus é multifatorial”, incluindo falhas graves na gestão do sistema de saúde local, os conhecidos gargalos da logística e aglomerações crescentes desde as eleições municipais no ano passado.
“Talvez a presença da variante do novo coronavírus também tenha contribuído, mas não diria que foi algo predominante nesse conjunto de fatores.”
Filardi afirmou também que, em momento algum, até aqui, foi constatada uma maior letalidade da Covid-19 atribuída à variante amazônica.
“Ela [a variante] pode ser mais contagiosa. Mas, claro, se há a mesma letalidade e um número maior de infectados, a mortalidade aumenta. O problema da pandemia é a escala exponencial.”
O especialista lembrou que, no início da pandemia, entre março e abril de 2020 — ainda antes da chamada primeira onda, portanto –, um estudo epidemiológico do qual ele fez parte já havia detectado fragilidades no sistema de saúde de Manaus, especificamente.
“Se acaba oxigênio, as pessoas vão morrer mais. Se acaba leito de UTI, as pessoas começam a morrer uma atrás da outra. É óbvio. Desde o início da pandemia, Manaus aparecia como uma cidade onde poderia haver problema. Talvez exista, sim, uma maior transmissão da variante, mas, na minha opinião, Manaus estava com uma rede de saúde insuficiente e que não foi melhorada. O estudo que falou em imunidade de rebanho na cidade, cheio de vieses, em outubro do ano passado, provocou uma falsa sensação de segurança na população. Depois vieram as eleições, o corpo a corpo dos políticos com os eleitores. Chegou o fim do ano, com a população relaxando as regras de distanciamento. Aí tudo isso pode ter se somado, sim, a uma variante um pouco mais contagiosa e deu no que deu.”
Nesse contexto, Filardi reforçou que não se arrisca a dizer que a situação de Manaus pode se replicar em massa no resto do país.
“Talvez a gente possa ter uma segunda onda um pouco pior que a primeira, por diversos fatores, mas o caos de Manaus é multifatorial e não se pode dizer que a variante foi predominante. É a minha impressão”, insistiu.
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