Dino minimiza PEC que limita poder do STF: “Muita tranquilidade”
Ministro do STF defende independência da Corte e afirma que decisões continuarão sendo tomadas mesmo com descontentamento político
O ministro Flávio Dino (foto) do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, nesta sexta-feira, 11, que a Corte está encarando com “muita tranquilidade” as Propostas de Emenda à Constituição (PECs) recentemente aprovadas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, que buscam limitar o poder do STF. A fala ocorreu durante o evento Encontro de Líderes, promovido pela organização da sociedade civil Comunitas, em São Paulo.
As PECs de contenção do STF em questão fazem parte de um pacote aprovado pela CCJ na última quarta-feira, 9.
As propostas têm como objetivo limitar as decisões monocráticas, ou seja, decisões tomadas individualmente por ministros do STF. Além disso, há projetos que permitem ao Parlamento anular decisões da Corte e que estabelecem novos procedimentos para o impeachment de ministros.
Independência do STF
Segundo Dino, o STF seguirá desempenhando seu papel com independência, aplicando a lei de maneira imparcial, mesmo que isso desagrade determinados grupos.
“O Supremo não vai deixar de decidir o que deve ser decidido, porque isso possa desagradar tal ou qual agente público ou privado“, declarou. Ele ressaltou que o foco do tribunal é garantir que a lei seja cumprida, independentemente das possíveis consequências políticas dessas decisões.
Apesar da aprovação das PECs pela CCJ, o governo federal, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, não mobilizou esforços significativos para frear o avanço do pacote no Congresso.
Partidos que compõem a base do governo também apoiaram a aprovação das propostas, o que adiciona uma camada de complexidade à questão política em torno do assunto.
Mudanças propostas impactam tribunais superiores
Além de afetar o STF, o pacote de mudanças também se estende a outros tribunais superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As PECs e projetos de lei aprovados devem agora ser analisados por uma comissão especial da Câmara antes de seguirem para votação no plenário. Se aprovados, poderão trazer mudanças profundas no funcionamento e na autonomia do Judiciário brasileiro.
As chamadas decisões monocráticas, alvo principal das PECs, são julgamentos proferidos por um único ministro, sem consulta aos demais membros da Corte. Ao restringir esse tipo de decisão, os proponentes das PECs argumentam que estarão aumentando a transparência e a colegialidade no Judiciário. No entanto, críticos veem essas medidas como uma tentativa de politizar o STF e minar sua independência.
Autocontenção e ativismo no STF
Durante o evento, Flávio Dino também comentou sobre a postura do STF em decisões que envolvem segurança pública e questões criminais. Ele mencionou que o tribunal alterna momentos de autocontenção com posturas mais ativistas, de acordo com a natureza dos casos em pauta. “Em matéria criminal, que repercute na segurança pública, há momentos em que as decisões são marcadas pela autocontenção, e outros pelo ativismo”, destacou Dino.
Ele ainda ironizou uma recente comparação que o qualificou como “bombeiro da nação” por sua atuação em temas sensíveis como o direito ao meio ambiente.
“Outro dia disseram que eu queria apagar incêndio, que eu era o bombeiro da nação. Eu estava aplicando a Constituição“, comentou Dino, em referência a uma decisão do STF baseada no artigo 225, que trata da preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Embora o ministro tenha adotado um tom mais conciliador em eventos recentes, seu discurso durante o Encontro de Líderes reforçou a independência do STF frente às pressões políticas. Em fevereiro, quando tomou posse, Dino havia afirmado que o tribunal não buscava interferir diretamente na política e criticou aqueles que acusam a Corte de ativismo, alegando que, muitas vezes, esses mesmos críticos tentam usar o tribunal para seus próprios interesses.
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