Deus e o diabo no palanque bolsonarista
No lançamento extraoficial de sua campanha, que o TSE decidiu tratar com benevolência, apesar da ilegalidade, Jair Bolsonaro (foto) disse aos seus apoiadores que a eleição é "uma luta do bem contra o mal". A declaração foi devidamente destacada, mas não se chamou atenção suficiente para a sua gravidade...
No lançamento extraoficial de sua campanha, que o TSE decidiu tratar com benevolência, apesar da ilegalidade, Jair Bolsonaro (foto) disse aos seus apoiadores que a eleição é “uma luta do bem contra o mal”. A declaração foi devidamente destacada, mas não se chamou atenção suficiente para a sua gravidade.
Bolsonaro levou para o seu palanque o discurso dos cultos evangélicos neopentecostais. Como já registraram os antropólogos Ari Pedro Oro e Marcelo Tavdad, que estudam há anos essas religiões, uma de suas características fundamentais é compreender o mundo como “campo de batalha entre o bem e o mal”. As palavras são exatamente as mesmas.
Falando dessa maneira, Bolsonaro iguala política e religião. Não é o mesmo que tentar traduzir em leis uma visão religiosa do mundo, limitando as hipóteses de aborto, por exemplo, ou proibindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo. É muito pior do que isso, porque faz com que todas as questões de governo passem a ser vistas como produto da influência de Deus ou do diabo. É um passo na direção dos piores regimes fundamentalistas.
No final do ano passado, a deputada bolsonarista Carla Zambelli compartilhou no Twitter uma imagem em que Lula aparecia de mãos dadas com o diabo, enquanto Bolsonaro caminhava ao lado de Jesus. A fala do antipresidente neste domingo mostra que essa será uma das linhas mestras de sua campanha, se não à vista de todos, ao menos de forma subterrânea, em grupos de mensagens voltados para os evangélicos.
Esse é um discurso perverso, que desvirtua a política e transforma adversários em monstros. Como lidar com ele?
Será possível tratar mensagens desse tipo como fake news, se o seu conteúdo não pode ser objeto de comprovação racional? Será possível interferir numa campanha desse tipo sem transformar as eleições em um debate sobre liberdade religiosa?
Mais uma vez, Bolsonaro vai pôr a democracia à prova.
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