Dá para confiar em Bolsonaro, governadores e prefeitos?
Como noticiamos, o Ministério da Saúde, depois da confusão de ontem, disse que corrigiu duplicações de dados nos estados e que o número de registros de mortes por Covid-19 no domingo foi de fato 525, não 1.382, como inicialmente divulgado. Dá para confiar? Com muitas reservas, visto que a pasta deixou de lado qualquer ambição de ser transparente...
Como noticiamos, o Ministério da Saúde, depois da confusão de ontem, disse que corrigiu duplicações de dados nos estados e que o número de registros de mortes por Covid-19 no domingo foi de fato 525, não 1.382, como inicialmente divulgado.
Dá para confiar? Com muitas reservas, visto que a pasta deixou de lado qualquer ambição de ser transparente, por causa da insistência do presidente da República em minimizar os efeitos da pandemia e sabotar permanentemente a quarentena exigida para evitar a propagação da doença. Além disso, as sugestões alopradas de amigos de Jair Bolsonaro para rever os critérios de contagem de vítimas da Covid-19 só faz aumentar o descrédito na seriedade do governo em relação à pandemia.
É suspeito, ainda, que o Ministério da Saúde permaneça sem ministro titular, com um interino cuja formação é bélica, não médica. A ausência de ministro titular qualificado permite supor, diante das mensagens contraditórias do governo, que um dos motivos para não termos ministro é justamente possibilitar a adoção de critérios heterodoxos nas contagens de vítimas da pandemia, a fim de edulcorar a realidade — e, assim, abolir a urgência sanitária por decreto. Tudo fica mais estarrecedor se for verdade que Bolsonaro exigiu que o número diário de mortos ficasse abaixo de mil, o que configura gravíssimo crime de responsabilidade.
Diante do caos calculado no Ministério da Saúde, jornais e entidades resolveram contabilizar os novos casos e os óbitos por meio da soma dos dados das secretarias estaduais. É uma boa iniciativa, mas também não está garantido que as cifras fornecidas pelas secretarias retratem integralmente a realidade. Para além das subnotificações de praxe, que não são de pequena monta num país cujo nível de testagem é ridículo, a maioria dos governadores e prefeitos decidiu abrir o comércio e demais atividades econômicas, apesar do aumento brutal da propagação do vírus. É permitido supor que a verdade dos números possa atrapalhar essa irresponsabilidade.
Neste momento, o que é possível dizer é que, depois de quase três meses, os governantes fizeram tudo errado, guardadas as raras exceções, assim como pelo menos metade da população (e parte expressiva não é composta por gente pobre, mas de classe média). Tivéssemos feito quarentena seriamente, com uma política de abertura coordenada e sensata que também desse conta das dificuldades impostas pela nossa realidade social, estaríamos agora com a pandemia sob controle e alguma luz no final do túnel.
Continuamos a tatear no escuro, com um enorme precipício à nossa frente. Inclusive político, o que torna tudo ainda pior.
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