Crusoé: Tá ruim, mas tá bom
Pesquisa Quaest demanda mudança da autopercepção que Lula e do núcleo duro deste governo fazem de si mesmos
A nova pesquisa Quaest de popularidade e aprovação do governo deve ter o peso de uma esfinge para núcleo duro petista. Não porque seja difícil de interpretar – pelo contrário, as conclusões são tão evidentes que quase estapeiam o leitor –, mas porque ela exige uma mudança da autopercepção que Lula e seu núcleo duro fazem de si e de como ela conflita com a realidade econômica, política e social do país.
Nesse sentido, o primeiro conselho que a pesquisa traz é: não acredite na sua própria narrativa. Quem comemora o “pibão do Lula”, crescimento de 2,9% em 2023, pode perigosamente deixar de reconhecer que o segundo semestre do ano passado mostrou que a coisa deixou de acontecer, com redução de ritmo e mercado de trabalho deixando de avançar.
Há dados que evidenciam uma piora da sensação econômica das pessoas. O percentual de entrevistados que disse que a economia piorou nos últimos 12 meses subiu 7 pontos, chegando a 38%, a expectativa de que as coisas vão piorar nos próximos 12 meses cresceu 6 pontos, alcançando 31%, e a percepção de que os preços das contas, dos alimentos e dos combustíveis subiram 63%, 73% e 51% respectivamente.
O governo deve tomar cuidado para não embarcar no descolamento de realidade que defensores mais fortes da gestão Lula assumem ao analisar eventos desconfortáveis, emitindo opiniões que já nascem como memes na linha do “tá ruim, mas tá bom”. Um exemplo recente foi comemorar o aumento da arrecadação sabendo que boa parte do dinheiro veio de impostos cobrados do pagamento de um volume colossal de precatórios e não de aumento de atividade, ou seja, a melhoria da receita veio do aumento da dívida.
O segundo conselho é não perder o eleitor não alinhado. Com uma divisão ideológica bastante definida, ou calcificada, como disseram recentemente Felipe Nunes, da própria Quaest, e o comentarista político Thomas Traumann, só há um eleitor que importa, qual seja, o que votou no ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018 e escolheu Lula em 2022. Nos Estados Unidos, o cidadão que pode migrar entre democratas e republicanos é chamado de “swing voter”.
No entanto,…
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