Crusoé: O vermelho, o negro e a Copa do Brasil
O exército rubro-negro a serviço de sua própria fé reverbera Stendhal: é “cada um por si nesse deserto de egoísmo que se chama a vida”
O desafio das crônicas esportivas que tenho publicado em Crusoé é encontrar uma referência literária para auxiliar na análise. O projeto começou com a intenção de desbravar a literatura sobre esportes, o que fiz em textos como NFL, a maior liga do mundo, já implorou por atenção, Os atletas geniais são idiotas? e A origem dos escretes, mas o projeto foi ampliado para algo que me acostumei a fazer desde o fim da faculdade.
Meu projeto final do curso de jornalismo na UnB foi uma coluna que se propunha a mencionar clássicos literários sempre que possível, a partir de uma provocação pescada no primeiro volume do Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (mais detalhes em Um jornal para Swann). A ideia básica era enriquecer o debate — e também me motivar a ler. O desafio nem sempre foi alcançado com a sutileza necessária e, por isso, eu me debatia nesta semana sobre como usar o título perfeito de O Vermelho e o Negro, de Stendhal, para falar do Flamengo neste texto.
O jornalista Ruy Castro já usou esse mesmo título para falar sobre o rubro-negro carioca, e resumiu assim, em livro homônimo, o clássico francês: “Tem como herói o ambicioso Julien Sorel, cujo dilema, entre uma carreira no Exército (o vermelho) ou na Igreja (o negro), leva-o a perder seus amores, a cabeça e a vida”.
“Fosse Stendhal brasileiro e nosso contemporâneo, saberia que essa combinação de cores, longe de significar uma contradição, encontraria sua perfeita resolução no Flamengo — um exército a serviço de uma fé”, seguiu o jornalista. E essa é a minha deixa para falar sobre a mudança da data da partida de volta da semifinal da Copa do Brasil entre Flamengo e Corinthians.
Mudou tudo
Para quem não sabe, Flamengo e Atlético Mineiro pediram à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que alterasse a data dos jogos decisivos contra Corinthians e Vasco, para que pudessem contar com os jogadores convocados para as seleções na data FIFA. O pleito é legítimo, porque o calendário brasileiro pune os clubes com melhores atletas, já que os campeonatos nacionais não param durante as partidas entre as seleções. Mas Corinthians e Vasco não concordaram com a mudança.
Mesmo sem a anuência de todos os envolvidos, a CBF tomou partido de Flamengo e Atlético, trocando a rodada da Copa do Brasil pelo Brasileirão, o que beneficiou dois clubes e prejudicou outros oito. Corinthians, Athletico Paranaense e Fluminense, que lutam contra o rebaixamento, terão de entrar em campo desfalcados pelo Campeonato Brasileiro. Além disso, o São Paulo não poderá jogar em seu estádio contra o Vasco, entre outras consequências da decisão da CBF.
E o que a diretoria…
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