Crusoé: O triunfo do mérito
Rebeca Andrade faz história em Olimpíada que quase foi capturada por guerras culturais
Dificilmente alguma imagem se tornará mais icônica na Olimpíada de Paris que a do pódio em que a ginasta brasileira Rebeca Andrade, medalha de ouro depois de uma apresentação impecável no solo, foi reverenciada pelas colegas Simone Biles, a melhor de todos os tempos segundo muitos especialistas, mas prata naquele dia, e Jordan Chiles, bronze. Na entrevista que concederam depois da premiação, as duas atletas americanas apontaram a qualidade técnica extraordinária de Rebeca e o respeito e admiração que a ginasta brasileira sempre expressou pelas representantes da equipe americana. Como muitos veículos da imprensa estrangeira destacaram, Rebeca triunfou em Paris não depois de uma, nem de duas, mas de três cirurgias de ligamento cruzado. Ao longo da carreira, teve muitas oportunidades para desistir.
A imagem da entrega de medalhas teve um segundo significado. Foi a primeira vez que um pódio da ginástica artística teve três mulheres negras. Chiles mencionou esse fato em sua entrevista coletiva e disse que foi outro motivo por que elas se sentiram à vontade para celebrar Rebeca. A brasileira, nas muitas declarações que deu ao longo da semana, também comemorou, quando lhe perguntaram, o ineditismo do pódio inteiramente composto por jovens negras. Nenhuma delas, contudo, deu à questão da raça – uma questão social e política – maior proeminência do que aos feitos esportivos propriamente ditos. Também nisso elas foram geniais.
Fato é que competições não acontecem num vácuo. Grandes eventos globais, como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo de Futebol, menos ainda. Eles são cercados de interesses e pressões políticas e seria irrealista esperar que isso não tivesse consequências.
Questões culturais divisivas são outro elemento capaz de envenenar um grande evento esportivo. Nesse caso, escolhas desastradas da organização quase fizeram que as Olimpíadas fossem capturadas pelas guerras cultuais, diz a reportagem de capa da nova edição de Crusoé, assinada por Carlos Graieb.
A matéria “Recuperação sob suspeita”, assinada por Wilson Lima, revela que o processo de recuperação judicial do grupo Petrópolis, homologado em outubro de 2023, tem sido questionado por credores e integrantes do Ministério Público do Rio de Janeiro devido aos indícios e vícios procedimentais encabeçados pela então juíza da 5ª Vara Empresarial do Estado do Rio de Janeiro, Elisabete Franco Longobardi. Talvez o mais gritante seja que a juíza nomeou como perito judicial Luís Felipe Salomão Filho, filho do ex-corregedor-geral do Conselho Nacional de Justiça Luís Felipe Salomão e um dos advogados responsáveis pela recuperação judicial do grupo em pelo menos dez ações distintas.
A reportagem “Ciro dá o tom” mostra que campanha para a prefeitura de Fortaleza (CE) será marcada pela cisão entre o PDT, de Ciro Gomes, e o PT, de Cid Gomes. Furioso com o que chama de “trairagem”, Ciro partiu para cima dos seus rivais na esquerda. Sua verborragia acabou definindo o clima da eleição, que ironicamente tem mais chances de ser decidida na direita.
Crusoé Entrevistas
A entrevista desta semana é com Sarah Borges, estudante brasileira que saiu de Goiânia para estudar em Harvard, uma das mais prestigiadas instituições de ensino do planeta.
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Privilegiando o assinante de O Antagonista+Crusoé, que apoia o jornalismo independente, também reunimos nosso timaço de colunistas. Nesta edição, escrevem Ivan Sant’Anna, Jerônimo Teixeira, Josias Teófilo, Orlando Tosetto Júnior, Rodolfo Borges e Leonardo Barreto.
A sátira política fica por conta de Ruy Goiaba.
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