Crusoé: O time da minha aldeia
Não é falta de caráter torcer para um clube grande de outro estado ou da Europa, mas é óbvio que algo já se perdeu quando isso acontece
Hélio dos Anjos desabafou no início da temporada. “Quero que o Flamengo se dane. Não sou flamenguista, não trabalho no Flamengo”, disse o treinador do Paysandu ao lamentar a preferência para o gigante carioca no Pará. Seu time não pôde jogar no Mangueirão, para preservar o gramado para a partida entre os flamenguistas e o Sampaio Corrêa pelo Campeonato Carioca, fora do Rio de Janeiro, no último dia 31.
Em seu desabafo, o treinador falou em “preservar a identidade dos clubes locais” e lembrou o episódio em que criticou os torcedores goianos que torciam pelo Flamengo, em 2009. “Tenho ódio desses flamenguistas do interior de Goiás. Eles são uma vergonha, não têm identidade, nem caráter para honrar a própria terra. Pelo contrário, vestem a camisa do Flamengo, ou de qualquer outra grande equipe de fora, e vão ao estádio torcer contra um time do seu estado”, disse Hélio na ocasião.
O debate volta à tona todo início de ano, durante os campeonatos regionais, e, em 2024, quando os grandes clubes de Rio de Janeiro e São Paulo disputam seus jogos em outras regiões para grandes públicos, faz ainda mais sentido. Não vou dizer que é falta de caráter torcer para um clube grande de outro estado — é compreensível, inclusive, que os mais jovens se inclinem a acompanhar o estrelado futebol europeu —, mas é óbvio que algo já se perdeu quando isso acontece.
“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”, diz o célebre poema de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa). Que segue: “O Tejo desce de Espanha. E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia e para onde ele vai e donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, é mais livre e maior o rio da minha aldeia.”
Não é…
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