Crusoé lançou luz sobre contratações de esposas e parentes de ministros do STF
Revista destrinchou elos familiares entre escritórios de advocacia e tribunais, que agora voltam a gerar desconfiança

Diante da notícia de que o Banco Master contratou a esposa de Alexandre de Moraes, O Antagonista relembra alguns episódios marcantes desta seara e indica leituras mais detalhadas a respeito.
A revista Crusoé, na matéria “Cai o tráfico, fica a influência”, assinada por Felipe Moura Brasil em 14 de março de 2024, destrinchou elos familiares entre escritórios de advocacia e tribunais, reforçados nos últimos anos.
O caso mais famoso é o de Dias Toffoli, que, em dezembro de 2023, suspendeu multas de R$ 10,3 bilhões da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que haviam contratado a advogada Roberta Rangel, esposa do ministro do STF. Toffoli alegou que “há, no mínimo, dúvida razoável sobre a voluntariedade dos irmãos” Batista ao firmar a leniência, quando, na verdade, Joesley, a fim de lavar sua imagem e evitar maiores prejuízos derivados do envolvimento em suborno, antecipou-se em 2017, decidiu virar colaborador sem estar preso, gravou conversa com o então presidente Michel Temer e assinou o acordo junto com Wesley, ambos confessando pagamentos de propina.
Quando o STF, em agosto de 2023, autorizou os próprios ministros e demais juízes a julgarem casos de clientes de escritório de cônjuge ou de parente, o Grupo Petrópolis, também investigado no âmbito da Operação Lava Jato, já havia contratado, em fevereiro e junho daquele ano, três advogados parentes de ministros do STF: Karine Nunes Marques, irmã de Kassio Nunes Marques; Viviane Barci de Moraes, mulher de Alexandre de Moraes; e Maria Carolina Feitosa, enteada de Gilmar.
As três passaram a atuar em caso contra a Imcopa, empresa de processamento de soja com a qual Walter Faria, dono do Petrópolis, tinha uma disputa societária. Meses depois, em março de 2024, o ministro Antônio Carlos Ferreira, do Superior Tribunal de Justiça, derrubou uma liminar da Justiça do Paraná e transferiu a posse da Imcopa para o grupo de Faria. Antônio Carlos, do “Centrão” do STJ, tem ótima relação com Kassio, com quem aparece sorridente em diversas fotos; tomou posse junto com Gilmar como ministro substituto do TSE em 13 de junho de 2023; e foi saudado por Moraes, na ocasião, como “um amigo que vem para somar ao Tribunal da Democracia”. Naquele mesmo mês de junho, Crusoé publicou matéria sobre “Os casais poderosos do STF”,
Em julho daquele ano, um mês antes do libera-geral do STF, Crusoé também havia noticiado que o número de ações no Supremo sob a responsabilidade de esposas dos ministros da Corte subiria para 109 com a posse de Cristiano Zanin, o advogado pessoal indicado por Lula.
A divisão familiar no STF
Em agosto de 2023, a ex-ministra do STJ Eliana Calmon disse ao Papo Antagonista:
“Existe uma divisão familiar. A mulher fica com o poder econômico nos escritórios de advocacia; e o marido, com o poder político dentro do Judiciário. Desta forma, eles ganham muito e têm o poder na mão. É realmente um acasalamento perfeito.”
Emplacar aliados em outros tribunais, além de órgãos de fiscalização e controle, como a Procuradoria-Geral da República, só aumenta o poder político desses maridos, ou parentes, dentro do Judiciário, como explicou Moura Brasil. A disputa nos bastidores é tão acirrada que incendiou a relação entre Gilmar e Kassio em 2022, quando o primeiro fazia campanha pela indicação do desafeto do segundo, Ney Bello, do TRF-1, para o STJ. O veto pessoal de Kassio ao antigo colega de Corte levou o então presidente Jair Bolsonaro a optar pelo favorito do ministro à vaga, Paulo Sérgio Domingues, também apoiado por Antônio Carlos Ferreira.
Flávio Jardim, cuja indicação para o TRF-1 em março de 2024 foi apoiada por Gilmar, é sócio do escritório de advocacia Sergio Bermudes, que também tem como sócia a advogada Guiomar Feitosa Mendes, mulher do ministro do STF. Com ajuda de Lula, portanto, Gilmar, que blindou o petista contra a Lava Jato, emplacou não só seu ex-sócio Paulo Gonet na PGR, mas o sócio da própria esposa no TRF-1, que atua em processos de 13 unidades da federação.
Em 2019, quando a Receita Federal atingiu as esposas de Toffoli e Gilmar, Moraes usou o inquérito das fake news para suspender a apuração e dois auditores fiscais.
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Comentários (7)
João Bento Corrêa Lima
03.04.2025 17:18O executivo é fraco e refém dos outros pederes; o legislativo só elabora e vota leis que os matém isentos e impunes de seus delitos e o judiciario, também cúmplece (do legislativo e executivo) "julga" - quase sempre como inocentes os membros desta casta que se beneficia com o dinheiro dos impostos que pagamos. Como está somos apenas a massa que mantém esta "elite no poder". É de chorar...
Mirabeau Martins Bastos
03.04.2025 17:10Tem mais um detalhe que ninguém comenta: pode até ser apenas coincidência, mas a ex-esposa de José Roberto Arruda e ex-candidata ao senado pelo DF, Flávia Arruda, é casada com um dos sócios do banco Master. Bom não esquecer que o ex-marido dela ainda tem alguma influência no DF.
Felipe IP
03.04.2025 16:55Tá tudo em casa...
F-35- Hellfire
03.04.2025 13:35Moralmente tais juízes nem poderiam ser juízes. Deveriam ser expulsos da magistratura e, no entanto, seguem absolvendo corruptos e proferindo sentenças...O Brasil é a casa da mãe Joana! IMPEACHMENT JÁ!
Murillo Bueno
03.04.2025 12:16Retrato de um país lixo.Em sã consciência é impossível acreditar que possa ter alguma solução em um horizonte de 20 anos.provavelmente nunca !
JOSE ROBERTO CARRARA
03.04.2025 11:04Na verdade dá nojo ler uma materia dessa, parabens ao Antagonista, só lamentar que toda essa sujeira exposta não dá em nada, o congresso deveria com urgencia criar mecanismos para proibir tal pratica,,,,,,,
Gilberto Aparecido Americo
03.04.2025 10:51Por vontades que não nos são próprias, estamos todos residindo nesse lupanário.