Brasileira premiada em Harvard vira bolsista de doutorado em Psiquiatria em Cambridge
Formada “com a mais alta honra” nos EUA, Sarah Borges ganhou nova bolsa no Reino Unido para estudar problemas de saúde mental no Brasil e no mundo
Formada “com a mais alta honra” em Psicologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a brasileira Sarah Borges, nascida em Goiânia, publicou nesta quarta-feira, 25, uma “nota de agradecimento” nas redes sociais pelos apoios recebidos e anunciou que, a partir de setembro, iniciará doutorado em Psiquiatria na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, com bolsa concedida por excelência acadêmica.
Sarah Borges foi entrevistada por Felipe Moura Brasil em 9 de julho de 2024; e a conversa (que também pode ser vista no fim desta reportagem) segue disponível no canal do portal O Antagonista no YouTube, assim como a matéria correspondente na revista Crusoé.
Em sua nova etapa de estudos, a primeira brasileira a conquistar o Prêmio Sophia Freund pretende “continuar investigando melhores formas de entender, prevenir e tratar problemas de saúde mental no Brasil e no mundo”.
Eis a íntegra da nota de Sarah Borges:
“Queria escrever essa nota para agradecer, do fundo do coração, por cada palavra de carinho que recebi nos últimos dias. Nunca imaginei que tantas pessoas comemorariam comigo o fim da graduação dessa forma.
Minha trajetória começou em Goiânia, onde nasci e cresci. Acredito que as conquistas que colhi até hoje foram fruto não só de dedicação e amor ao aprendizado, mas principalmente de oportunidades e do apoio de familiares, professores, colegas, e até desconhecidos, que abriram caminhos antes de mim ou caminharam ao meu lado.
A cada uma dessas pessoas, minha gratidão é eterna!
Como várias notícias (muitas inesperadas) começaram a circular, também achei importante contar, com minhas próprias palavras, um pouco dessa trajetória em Harvard.
No mês passado, eu me formei em Psicologia pela Universidade de Harvard, nos EUA. Minha tese (similar ao TCC no Brasil) foi solore caminhos para melhorar o acesso à saúde mental para jovens brasileiros. Mais especificamente, realizei uma pesquisa sobre como o estigma afeta o acesso de jovens a serviços de saúde mental. Esse trabalho me aproximou de pesquisadores e organizações incríveis que atuam no tema, que considero urgente e essencial.
Concluí a graduação com a honraria summa cum laude e recebi o Prêmio Sophia Freund, concedido aos alunos com as maiores médias gerais (GPA) da turma. Neste ano, eu e outros 53 estudantes (entre cerca de 1.960 formandos de 94 países) fomos reconhecidos.
Fui a primeira brasileira a conquistar esse prêmio e fico muito honrada de poder trazer essa conquista ao nosso país!
Também no meu último ano, fui selecionada à Phi Beta Kappa, a sociedade de honras acadêmicas mais antiga dos Estados Unidos.
Fundada em 1776, ela reconhece cerca de 10% dos estudantes da classe que demonstram excelência intelectual, amplitude de conhecimento e compromisso com o aprendizado ao longo da vida.
Essas conquistas não surgiram de repente, mas de uma paixão pelos estudos cultivada desde pequenininha. Nunca imaginei que um dia estudaria em Harvard, tanto que, antes de ser aceita, comecei Medicina na USP, onde conheci colegas e professores incríveis. Em Harvard, aproveitei da flexibilidade do sistema americano para explorar diferentes áreas, de filosofia à ciência da computação. Busquei fazer aulas que realmente me interessassem e desafiassem, sendo a única estudante de graduação em duas disciplinas de estatística para doutorandos.
Para além do acadêmico, fui transformada por iniciativas de impacto social. Por três anos, fiz parte da Associação para Cultivo da Democracia Inter-Americana (HACIA Democracy), conferência que promove debates sobre temas relevantes à democracia com jovens da América Latina. No último ano, tive a alegria de servir como co-presidente e ajudar a trazer a cerca de 450 estudantes de 10 países latino-americanos ao Brasil pela primeira vez em 30 anos.
Também fui vice-presidente da Brazil Conference, ajudando a idealizar e liderar o Programa de Pesquisadores, que seleciona e financia a vinda de pesquisadores brasileiros de destaque para apresentarem seus trabalhos em Harvard e no MIT. Essas experiências reforçaram em mim a certeza de que conhecimento e oportunidades só fazem sentido quando compartilhados com propósito e enraizados na realidade de onde viemos.
Em setembro, iniciarei meu doutorado em Psiquiatria na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Fui contemplada com outras quatro bolsas para pós-graduação (Gates Cambridge, Harvard-UK Herchel Smith, Harvard-Cambridge, e St John’s College Benefactors’ Scholarship), das quais escolhi a Gates Cambridge, concedida a um “grupo seleto de estudantes do mundo inteiro, com base em excelência acadêmica, liderança e compromisso com o bem comum.”
Na Inglaterra, pretendo continuar investigando melhores formas de entender, prevenir e tratar problemas de saúde mental no Brasil e no mundo.
Mas o que mais me orgulho de levar da universidade não são títulos. São os amigos de todos os cantos do mundo com quem tive a sorte de aprender e me divertir, as conversas com professores, mentores e funcionários que me acolheram e expandiram minha forma de pensar, a gratidão por todos que me trouxerem até aqui, em especial minha família, e a valorização profunda de uma boa educação como ferramenta de transformação e de compreensão do mundo.
Se eu pudesse deixar humildemente uma reflexão, seria que mais pessoas buscassem aprender não só pelas portas que uma boa educação abre no mundo, mas pelas janelas que ela escancara dentro da gente; e que reconhecêssemos que isso não é possível só com mérito individual, mas com apoio, incentivo e cuidado daqueles ao nosso redor, e cada um de nós pode oferecer isso a alguém.
Mais uma vez, muito obrigada por celebrarem comigo esse momento especial!”
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)