As ‘latas de cerveja’ do Banco Paulista
A Lava Jato apurou que os agentes da mesa de câmbio do Banco Paulista em São Paulo eram instruídos, por meio de mensagem codificada, a incluir determinado sobrepreço nas taxas de câmbio das operações celebradas com a Petrobras...
A Lava Jato apurou que os agentes da mesa de câmbio do Banco Paulista em São Paulo eram instruídos, por meio de mensagem codificada, a incluir determinado sobrepreço nas taxas de câmbio das operações celebradas com a Petrobras.
Na orientação verbal, transmitida por telefone pelo representante do banco no Rio, nas manhãs de fechamento dos contratos, utilizava-se do código ‘x’ latas de cerveja, como equivalência da manipulação indevida.
“Cada lata de cerveja representava um milésimo de real na taxa de câmbio, de modo que 8 latas de cerveja representariam acréscimo ou decréscimo de oito milésimos de real, a depender da modalidade do contrato de câmbio (compra ou venda de dólares)”, diz o MPF.
O procurador da República Antonio Diniz ressalta que o acréscimo ou decréscimo nas taxas de câmbio era quase imperceptível, na casa dos milésimos de real.
“O prejuízo à Petrobras, no entanto, em razão do volume bilionário negociado, alcançou quase R$ 100 milhões. A própria variação cambial intrajornada tratava de esconder as evidências de irregularidades, em sofisticado ‘modus operandi’ que torna o crime quase perfeito. Muito dificilmente se conseguiria juntar as peças desse quebra-cabeça – cuja montagem ainda está em curso – sem a experiência acumulada pelos membros e servidores da força-tarefa Lava Jato, e o trabalho conjunto com várias instituições parceiras, como a Polícia Federal, a Receita Federal e o Setor de Integridade Corporativa da Petrobras.”
Para dissimular e distribuir os ganhos ilicitamente gerados nas operações de câmbio com a Petrobras, o Banco Paulista firmou contratos fraudulentos de consultoria com a empresa de fachada QMK Marketing e Qualidade, com vistas à geração de recursos em espécie.
“Do valor bruto das notas fiscais ideologicamente falsas, emitidas por serviços nunca prestados, revelou-se que o equivalente a 81% era devolvido ao escritório do Banco no Rio de Janeiro, através de empresa de transporte de valores. “
Há evidências de que, no período que vigoraram os negócios com o Banco Paulista, os funcionários da Petrobras e seus familiares tiveram variação patrimonial positiva a descoberto. Para ocultar o enriquecimento ilícito, adquiriram imóveis em dinheiro vivo. Um dos imóveis foi reformado e explorado como pousada pelos investigados e seus familiares.
Também adquiriram direitos e ações em empresas offshore no Panamá, com contas bancárias sediadas na Suíça, em Andorra, Liechtenstein e nos Estados Unidos. Há indicativos de que as operações de lavagem ocorreram até 2020.
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