Aras, o PGR crítico da Lava Jato
No dia 5 de setembro, Jair Bolsonaro decidiu indicar o subprocurador-geral Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República, no lugar de Raquel Dodge. Depois de meses de negociações -- foram, pelo menos, sete reuniões do presidente com Aras antes da decisão final --, Bolsonaro deixou de...
No dia 5 de setembro, Jair Bolsonaro decidiu indicar o subprocurador-geral Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República, no lugar de Raquel Dodge.
Depois de meses de negociações (foram, pelo menos, sete reuniões do presidente com Aras antes da decisão final), Bolsonaro deixou de lado a lista tríplice para a sucessão da PGR (uma invenção petista), as preferências de Sergio Moro (o ministro da Justiça costuma ser ouvido nesse momento) e escolheu um nome que corria por fora.
Nos encontros entre o presidente e Aras, os temas mais frequentes foram meio ambiente e identidade de gênero. Mas Bolsonaro também quis saber, obviamente, a opinião do então subprocurador sobre a Lava Jato.
Aras era um crítico da força-tarefa.
Além disso, como mostrou a Crusoé, Aras fez até fez festa para petistas enrolados com a Justiça, em 2013. E defendeu o MST.
Segundo o advogado Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff, o atual PGR “sempre fez questão de dizer que era de esquerda”.
Enquanto petistas aprovavam a nomeação, o Ministério Público viu a escolha com preocupação.
Na percepção do MP, a nomeação representou um recuo no combate aos crimes de colarinho branco. Isso porque Aras manifestou reiteradas vezes ser contrário aos métodos de juízes, procuradores e delegados da maior operação anticorrupção da história do país.
Antes de ele ser escolhido por Bolsonaro, procuradores chegaram até a articular um protesto contra a indicação.
Em outra reportagem, a Crusoé mostrou que um dos principais responsáveis pela escolha de Aras foi o ex-deputado Alberto Fraga, figurinha carimbada em investigações do MP de Brasília.
Amigo do subprocurador há mais de quinze anos, foi Fraga quem aproximou Aras de Bolsonaro.
No dia 25 de setembro, a indicação de Aras foi aprovada com folga no Senado.
Durante a sabatina, ele declarou que a Lava Jato foi um “marco importante” no combate à corrupção, mas que a modus operandi da força-tarefa precisava ser aperfeiçoado.
Disse ainda que “talvez tenha faltado à Lava Jato a cabeça branca”, ao criticar a suposta falta de maturidade dos seus integrantes.
Defendeu, ainda, a redação da Câmara da Lei de Abuso de Autoridade.
Cantou e encantou os senadores.
E ganhou elogios de Renan Calheiros.
Já no cargo de PGR, Aras pediu ao STF a revogação da decisão liminar de Dias Toffoli sobre o uso em investigações de dados sigilosos da UIF –antigo Coaf– e da Receita Federal.
E defendeu a manutenção do entendimento da Corte, de 2016, de que o réu condenado em segundo grau já deve começar a cumprir a pena.
No final do ano, após a má repercussão do anúncio que havia feito, Augusto Aras decidiu prorrogar o prazo e analisar de novo os cortes nas equipes de investigação, inclusive da Lava Jato, na Procuradoria-Geral da República. Eles ficaram para fevereiro.
A gestão de Aras à frente da PGR será marcada, a partir de 2020, pela quantidade — e qualidade — de tais cortes.
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