Agamenon: O útil voto inútil Agamenon: O útil voto inútil
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Agamenon: O útil voto inútil

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Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 23.09.2022 21:27 comentários
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Agamenon: O útil voto inútil

Fui obrigado a interromper o ensaio da minha nova dancinha do TikTok para escrever mais um artigo remunerado a leite de pato para O Antagonista, o site de notícias mais muquirana do Brasil. Hoje em dia, é mais lucrativo rebolar as partes encarquilhadas da minha anatomia do que analisar com isenção e imparcialidade os rumos da política no país...

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5 minutos de leitura 23.09.2022 21:27 comentários 0
Agamenon: O útil voto inútil
Agamenon/O Antagonista

Fui obrigado a interromper o ensaio da minha nova dancinha do TikTok para escrever mais um artigo remunerado a leite de pato para O Antagonista, o site de notícias mais muquirana do Brasil.

Hoje em dia, é mais lucrativo rebolar as partes encarquilhadas da minha anatomia do que analisar com isenção e imparcialidade os rumos da política no país. Os meus 17 seguidores e meio (não esqueçam do anão, coitado, que é um dos candidatos ao governo do estado do Rio) não podem viver sem as minhas tiradas cheias de sarcasmo e ironia que não poupam os poderosos de plantão. A não ser, é claro, que estes poderosos façam uma generosa contribuição à minha conta bancária, que está mais vazia do que o prato do brasileiro.

Sim, eu também sou um dos 33 milhões de famintos que sofrem de insegurança alimentar. Sou obrigado a pedir esmola para os meus vizinhos, que, penalizados, ignoram minhas súplicas por um pedaço de pão sourdough de fermentação natural dormido ou um pouco de farinha Panko para misturar com água Perrier. A última vez que comi carne foi quando mordi a língua, o que muito atrapalhou a minha vida sexual com a Isaura, minha patroa.

Como já disse muitas vezes antes, mas ninguém parece ter percebido, tive uma infância pobre e miserável. Nossa penúria era tão grande que lá em casa só tínhamos uma roupa pra usar: o vestido de noiva da minha mãe que eu, meu pai e meus irmãos usávamos sempre que a gente saía na rua. Bons tempos aqueles… morávamos de favor na gaveta de um muquifo na Pindaíba, subúrbio da Central. Nossa situação de miserabilidade só melhorou quando meu pai vendeu minha irmã para a carrocinha, que a revendeu para uma fábrica de sabão. Com o dinheiro adquirido, meu pai comprou um frango assado, que foi imediatamente devorado pela família esfomeada. Lembro com lágrimas nos olhos a delícia que foi mastigar os ossos do galináceo, porque a carne era toda para o meu pai, machista, autoritário e conservador, uma espécie de Bolsonaro avant la lettre.

Só não abandonei meus estudos porque nunca comecei a estudar. Por conta dessa deficiência educacional, só aprendi a escrever e até hoje não sei ler. Sempre fui um sujeito ignorante, prepotente, arrogante, mau-caráter e desonesto, mas admito que tenho alguns defeitos também; por isso me tornei jornalista. Com o meu baixo nível cultural, poderia facilmente ser candidato à Presidência da República. E digo mais: estaria liderando as pesquisas!

Pois é, isso foi 100 anos atrás e, de lá para cá, a evolução política do país foi lenta, segundo os pessimistas, ou nenhuma, segundo os otimistas. Daqui a duas semanas, o Brasil vai escolher seu próximo presidente: ou vai ser Luísque Inácio Lula da Silva ou Jair Messias Brochonaro. Lula já governou o Brasil e agora promete fazer melhor o que já fez antes. Quer dizer, o mensalão e o petrolão vão ser aprimorados, para que ninguém descubra nenhuma maracutaia. Já o Bozonaro está tocando o terror e dizendo que seu adversário vai transformar o Brasil numa Venezuela, coisa que só ele, Jair Bolsossauro, tem capacidade de fazer.

Eu achava que o pau ia comer nesse período pré-eleitoral, mas me enganei. Até agora, as agressões têm sido poucas: só alguns jornalistas foram xingados, o que, cá pra nós, é uma coisa salutar. Os candidatos estão nadando em dinheiro, graças aos fundos eleitorais e partidários que parecem não ter fundo. O dinheiro jorra aos borbotões dessas fontes inesgotáveis de financiamento político. Melhor negócio que a política, só mesmo fundar uma igreja evangélica.

No reto final das eleições, o PT (Partido Trapaceiro) começou uma campanha pelo voto útil. Segundo os pentelhistas, se todo mundo votar no Lula agora, não vai ter segundo turno e o primeiro operário sem dedo da história vai ser mais uma vez eleito. Para o PT, votar no Ciro ou na dupla sertaneja Simone e Soraya é uma perda de tempo. O que prova que, para o petismo, eleição demais atrapalha. Para os ‘voto-utilistas de esquerda’, as eleições só são válidas se os eleitores votarem uma vez só —e no Lula, é claro. Nesse ponto, são iguais ao Bolsoarma, que só vai aceitar o resultado se ele for o vencedor.

Como sou contra tudo que aí está, a não ser, é claro, que uma polpuda propina venha a mudar a minha opinião, declaro em alto e bom som que, diante deste quadro dantesco e desastroso, só me resta uma saída: votar em branco! Mesmo que me chamem de racista. O que não sou, é claro! Assim como ACM Neto, sou pardo e saio todos os anos no afoxé Filhos de Grana.

Agamenon Mendes Pedreira não consegue mais ir ao segundo turno, para decepção da Isaura, a sua patroa.

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