Agamenon: Debate-boca
Até que enfim! Depois de uma série (que não é da Netflix) de debates chochos e sem sal, o povo brasileiro foi agraciado com um espetáculo cheio de baixarias, insultos, impropérios e xingamentos. Eu ainda preferia que o debate entre o(a)s candidato(a)s a presidanto ou presidanta fosse um confronto sangrento num octógono de MMA...
Até que enfim! Depois de uma série (que não é da Netflix) de debates chochos e sem sal, o povo brasileiro foi agraciado com um espetáculo cheio de baixarias, insultos, impropérios e xingamentos. Eu ainda preferia que o debate entre o(a)s candidato(a)s a presidanto ou presidanta fosse um confronto sangrento num octógono de MMA ou, num clima mais fraterno, disputado numa batalha de dancinhas originais e rebolantes no Tik Tok.
O fato é que valeu a pena ficar acordado na noite de quinta-feira. Todos sabem que, devido à minha idade provecta, nas altas horas da madruga já estou recolhido ao leito assistindo ao X-Videoss com a Isaura, a minha patroa. Fazemos isso num exercício de memória, de modo a que nós dois nos recordemos da rotina sexual copulativa, obrigatória em todo casamento. Confesso que, em alguns momentos, não sei distinguir se o que estou assistindo é um filme pornô ou um debate político, sobretudo nas cenas de sodomia, em que tudo é gritaria e confusão.
Segundo os comentaristas da GloboNews que ainda não foram despedidos da emissora, a temperatura subiu porque houve um afrouxamento nas rígidas regras do debate. Pela primeira vez, foi permitida a participação de candidatos fantasiados, como o Padre Kelmon, vestido de sacerdote ortodoxo, e o Bolsonaro, caracterizado de democrata. Ciro Angu do Gomes veio de cangaceiro, e Lulalau se travestiu de honesto. A dupla sertaneja Simone e Soraya aproveitou que estava na Globo e pegou emprestados uns figurinos da novela “Pantanal” para, em duo, interpretar seus maiores sucessos de “sofrência”.
Muitas novidades foram introduzidas no último debate antes das eleições. Por exemplo: Luísque Inácio Lula da Silva não falou nenhuma vez “nunca antes na história…”: nunca antes na história dos debates isso tinha acontecido. Já Bolsonarma, sempre agressivo, parecia cansado e arriado. Eu diria até mesmo brochável porque, afinal, precisava dar duro, algo a que não está acostumado. Ciro Gomes nem parecia o velho cabra macho de outrora, o Lampião do PDT. Talvez esteja se poupando para a próxima eleição, quando vai disputar com o Padre Kelmon, o Cabo Daciolo e o Eymael, meu candidato. Um democrata-cristão!
Por falar nisso, a grande estrela da noite foi o Padre Kreysson, que resolveu dar uma mãozinha ao combalido Brochonaro, coitado. Como mostra o Datatrolha, o presidente não vai conseguir atingir o segundo turno, para grande decepção da dona Michelle, a sua (dele) patroa. Embora afirme ser padre, está na cara que esse Kevin não é lá “muito católico”. Padre Kreusson é uma novidade no cenário teológico-político porque é um padre de direita, ao contrário da maioria dos sacerdotes católicos, adeptos da Pedofilia da Libertação. O candidato de confissão bolsocristiano parece uma espécie de Bispo Pedyr Maiscedo que não deu certo.
O padre Kleverson também mostrou que é temente a Deus, mas não ao Bonner. Interrompia os outros candidatos o tempo todo, excomungando vários dos seus oponentes. Eu fico imaginando alguém se confessando com o nada ortodoxo candidato de batina. O pobre católico, em busca da misericórdia divina, seria esculachado pelo padre assim que começasse a contar os seus pecados e ia acabar expulso da igreja aos pontapés. Aliás, o que mais chama atenção na doutrina do fake padre é o avantajado crucifixo (que deve fazer mal à coluna) e o gorrinho que ele pegou emprestado do Carlinhos Brown.
Os petistas do voto útil acreditavam que Lularápio iria roubar a cena, mas, aconselhado por seus advogados, o candidato se conteve. Sobraram acusações de corrupção contra o ex-presidentiário Lula, que está na frente das pesquisas e no ranking das maracutaias. O que, aliás, muito irrita o Bozonaro, que até hoje só conseguiu realizar malfeitos mixurucas, tipo rachadinha e a compra de imóveis com dinheiro vivo —se é que alguém já viu dinheiro morto. Para ser um bom presidente do Brasil, não basta pensar grande: é preciso roubar grande também!
E o Partido Novo apresentou um candidato novo, quer dizer, velho. Só que ao contrário do Amoedo, que pintava os cabelos de acaju, Felipe D’Avila prefere manter seus cabelos grisalhos, ao natural. Por motivação de identidade capilar, talvez consiga receber alguns votos em branco. Passada a eleição, D’Avila será esquecido por seu partido, que em 2026 certamente vai escolher um outro candidato pra perder. Eu, que já sou idoso, não preciso mais votar. Mas, se pudesse, votaria na Simone Tablet ou na Soraya Troninho. Já está na hora de o país ter uma presidente melhor, quer dizer, mulher.
A verdade é que, no domingo, os brasileiros munidos do seu título de eleitor e de um Sonrisal vão comparecer à urna eleitoral. No Brasil, votar e andar é a função fisiológica mais importante da democracia. Significa que o processo digestivo está completo —isso para os poucos cidadãos que ainda têm o privilégio de comer alguma coisa. Antigamente a gente, pelo menos, tinha sapo pra engolir; hoje nem isso.
Em muitos estados da federação, a Anvisa e a Vigilância Sanitária pretendem interditar várias urnas em razão das precárias condições sanitárias dos partidos políticos. A Policia Federal também planeja dar um bote em vários meliantes que, para fugir da Justiça, se escondem dentro das urnas eletrônicas.
Mas as pesquisas não param de sair, há um clima de suspense no ar. De respiração presa, angustiados e ansiosos, todos querem saber afinal se no domingo vai dar… praia.
Agamenon Mendes Pedreira é debatedor de carteira.
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