A Ucrânia não importa para Lula e Bolsonaro
O respeito à vontade política e à coragem dos ucranianos deveria estar no centro de qualquer discurso sobre a guerra iniciada por Vladimir Putin, mas está ausente - gritantemente ausente - das declarações feitas até agora por Lula ou Bolsonaro.
O respeito à vontade política e à coragem dos ucranianos deveria estar no centro de qualquer discurso sobre a guerra iniciada por Vladimir Putin, mas está ausente – gritantemente ausente – das declarações feitas até agora por Lula ou Bolsonaro.
Os apologistas do petismo vão gritar: “Falsa equivalência! Falsa simetria!”. É o que sempre fazem quando alguém condena Lula e Bolsonaro numa mesma frase. Mas não há diferença moral no silêncio mantido por ambos sobre os direitos da Ucrânia, ou, mais concretamente, na falta de manifestações de solidariedade com um governo e uma população que resistem a um oponente muito mais poderoso.
Bolsonaro expressou “solidariedade” a Putin e depois impediu o Itamaraty de corrigir rapidamente sua asneira. Só nesta sexta-feira, o embaixador do Brasil na ONU começou a usar palavras mais duras contra a Rússia.
O PT é cegado pela doença infantil do antiamericanismo. Prefere ver a Ucrânia como mero joguete nas mãos dos Estados Unidos, e não como nação violentada por um carniceiro. Ocorre que os ucranianos não são joguetes de ninguém.
Em 2014, quando derrubaram o governo de Viktor Yanukovich com grandes manifestações populares, naquela que ficou conhecida como a Revolução da Dignidade, os cidadãos da Ucrânia manifestaram um desejo claro de estreitar seus laços com a Europa. Yanukovich, hipercorrupto e controlado pelo Kremlin, queria fazê-los ingressar numa área de livre comércio com a Rússia.
Depois da revolução, a Ucrânia passou a escolher seus líderes em eleições democráticas. Viktor Zelensky, o atual presidente, comanda a resistência a Putin clandestinamente, no interior de seu país. Essa não é a atitude de um fantoche manipulado pelo Ocidente. Yanukovich, ele sim, se exilou na Rússia logo depois de perder o poder.
Putin alega que a Ucrânia não existe separada da Rússia. Também afirma que Zelensky encabeça um regime “falso” e, apesar de ser judeu, patrocina uma política de natureza neo-nazista na região do Donbas, para eliminar minorias de origem russa. Mas jamais houve qualquer programa de limpeza étnica implementado por Kiev, apenas o separatismo alimentado pelas armas e pelos soldados do Kremlin naquela área.
As razões levantadas por Putin são tão cínicas, e atropelam com tal violência a verdade e o direito de autodeterminação dos ucranianos, que sua condenação nos termos mais enfáticos se impõe. Mas Lula e Bolsonaro não recorreram sequer aos eufemismos da linguagem diplomática para expressar repúdio.
A resistência dos ucranianos à invasão russa humilha e desmoraliza aqueles que fingem não vê-la, mas pretendem falar em nome das relações exteriores do Brasil. Essa é outra das muitas razões por que nem o petismo nem o bolsonarismo merecem reconquistar a presidência nas eleições deste ano.
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