A República hackeada
No dia 4 de junho, Sergio Moro notou que era alvo de hacker. Em reunião de emergência no Ministério da Justiça, uma hora após a invasão a seu celular, a Polícia Federal tomou as primeiras providências de investigação. Pouco mais de um mês depois, quatro pessoas envolvidas no ataque, todas originais de Araraquara, foram presas durante...
No dia 4 de junho, Sergio Moro notou que o seu celular havia sido hackeado. Em reunião de emergência no Ministério da Justiça, uma hora após a invasão a seu celular, a Polícia Federal tomou as primeiras providências de investigação.
Pouco mais de um mês depois, quatro pessoas envolvidas no ataque, todas originais de Araraquara, foram presas durante a Operação Spoofing e levadas para Brasília.
Eram elas: Walter Delgatti Neto, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira.
A tentativa de invasão do celular do ministro da Justiça era só a ponta de um esquema gigantesco, com centenas de alvos, dentre os quais as mais altas autoridades do país.
Delgatti Neto, líder do grupo, tornou-se o personagem central da trama envolvendo o maior ataque virtual a autoridades já registrado no Brasil.
Depois de localizar os responsáveis pelos ataques, os investigadores saíram em busca do caminho do dinheiro movimentado pelos criminosos para descobrir se alguém pagou pelos serviços dos hackers.
Como Delgatti Neto, conhecido como Vermelho, e seu principal parceiro, Gustavo Elias, têm uma ficha corrida imensa e um histórico de estelionatos, como mostrou a Crusoé, a principal linha de investigação era a de que eles venderam as mensagens roubadas.
Durante a busca e apreensão na casa onde moravam o casal Gustavo Elias e Suelen, a PF encontrou 100 mil reais em espécie.
Além de mapear as contas dos envolvidos, os investigadores miraram também as transações com criptomoedas realizadas pelo grupo.
O possível pagamento do ataque com as moedas virtuais é uma das linhas de investigação da PF.
Em seu depoimento à polícia, como revelado por O Antagonista, Delgatti Neto confirmou ter repassado as informações roubadas para o site The Intercept.
Disse também que a ex-deputada Manuela D’Ávila ouviu o grampo ilegal de um áudio entre dois procuradores da Lava Jato — o que a teria convencido a repassar o contato do hacker a Glenn Greenwald, fundador do Intercept.
Em agosto, reportagem de Fabio Serapião, na Crusoé, revelou que havia um quinto elemento ligado ao caso: Thiago Eliezer Martins dos Santos, programador de computadores conhecido como Chiclete.
Segundo a polícia, Chiclete e Vermelho teriam se encontrado durante uma viagem que o hacker de Araraquara fez a Brasília. Na capital do país, Delgatti foi a uma casa de câmbio para comprar dólares, numa operação suspeita realizada em parceria com Thiago.
Além disso, Thiago teria vendido uma Land Rover para Vermelho. O negócio é outra ponta mal explicada da relação entre os dois.
No dia 19 de setembro, a PF realizou a segunda fase da Spoofing.
Na operação, Chiclete foi preso.
Ele é o elo da quadrilha em Brasília — o que desde o começo fez os investigadores suspeitarem da existência de gente graúda envolvida no esquema e com interesse em minar a Lava Jato.
Chiclete aparece ainda ligado a contas bancárias com saldo de pelo menos 3 milhões de reais. Os policiais tentam saber se os valores devem-se ao próprio vazamento ou a fraudes bancárias.
Na segunda fase da operação, também foi preso o “sexto elemento” do grupo, Luiz Henrique Molição, um estudante de 19 anos de Ribeirão Preto que teria conhecido Vermelho na universidade.
Segundo a PF, Molição tentou negociar a venda das mensagens roubadas a Greenwald.
No dia 4 de dezembro, ele deixou a cadeia depois que sua delação foi homologada.
Pouco antes do Natal, a PF divulgou o relatório sobre o caso, indiciou os seis envolvidos e anunciou um acordo de delação premiada com outro integrante do bando.
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