A ingrata missão de Lula na articulação (e a culpa é dele mesmo)
Já escrevi aqui que o roteirista de Brasil é um gênio (e ele nunca entra greve, diga-se de passagem), afinal de contas de vez em sempre somos brindados com aquelas reviravoltas que dariam inveja a qualquer escritor hollywoodiano...
Já escrevi aqui que o roteirista de Brasil é um gênio (e ele nunca entra greve, diga-se de passagem), afinal de contas de vez em sempre somos brindados com aquelas reviravoltas que dariam inveja a qualquer escritor hollywoodiano.
O turnaround da vez tem nome e sobrenome: orçamento secreto. Durante a campanha do ano passado, Lula (com razão, diga-se) alçou o instrumento de distribuição de emendas diretas aos parlamentares à condição de inimigo-geral da República. O PT transformou o orçamento secreto em algo demoníaco, maquiavélico, satânico, entre outras coisinhas mais.
Mas como o PT não é o partido mais cândido desse mundo e sabe – ao menos em teoria – jogar o tal jogo político, a sigla terceirizou para o STF o desgaste de acabar com a prática. Conseguiu. Em tese, 1 x 0 a Lula na disputa contra Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lula, por óbvio, comemorou. Sem o tal orçamento secreto, o petista, com sua contumaz arrogância, imaginava que poderia controlar, via Palácio do Planalto, todos os 513 deputados e 81 senadores.
Mas o roteirista do Brasil agiu, e a realidade se impôs.
Na semana passada, Lula levou uma surra da Câmara. Sua tentativa de mudar o marco do saneamento foi barrada pelos deputados. O União Brasil foi unânime; o MDB votou em peso; o Republicanos, idem. O recado dos deputados foi límpido: apoio político não se compra com um, dois ou três ministérios. Os parlamentares querem mais; bem mais.
Apoio político se compra com emendas. É triste, mas essa é a realidade. Com o orçamento secreto, o ex-presidente Jair Bolsonaro centralizou a distribuição dessas emendas nas mãos de Lira e Pacheco. A negociação funcionava assim: o Planalto recorria a Pacheco e Lira e caberia a eles entregar os votos ao governo federal.
Agora não.
Sem o orçamento secreto, o governo Lula tentou negociar no atacado via ministérios; não funcionou. Tentou negociar no atacado via lideranças; não funcionou. Agora Lula tentará negociar no varejo ou inventar outro troço que ninguém sabe o que é. Vai funcionar? Difícil. Falta liderança. Falta apoio da sociedade. Falta apoio político. Falta… articulação política.
Do ponto de vista institucional, foi uma ótima ideia acabar com o orçamento secreto. Mas Lula se deu conta de que, com um Congresso viciado, é necessário achar outra isca aos deputados. O mensalão e o petrolão dão uma dica do que pode vir por aí; mas todos também sabem as consequências. Nas palavras de Eduardo Cunha: “Que Deus tenha piedade dessa nação.”
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