As reações na Câmara à tentativa do PT de emplacar uma CPI contra Moro
Como mostramos ontem, o PT está em busca de assinaturas na Câmara para tentar, em ano eleitoral, emplacar uma CPI que pretende "investigar" Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República. Para protocolar o pedido de CPI e ficar à espera de uma decisão de Arthur Lira (PP-AL), serão necessárias 171 assinaturas. O PT tem 53 deputados, a segunda maior bancada da Câmara...
Como mostramos ontem, o PT está em busca de assinaturas na Câmara para tentar, em ano eleitoral, emplacar uma CPI que pretende “investigar” Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República.
Para protocolar o pedido de CPI e ficar à espera de uma decisão de Arthur Lira (PP-AL), serão necessárias 171 assinaturas. O PT tem 53 deputados, a segunda maior bancada da Câmara.
O Antagonista, que ouviu mais de 20 deputados sobre o assunto, apurou que os petistas já teriam o apoio de, pelo menos, Solidariedade, PSB, PCdoB, PSOL e PDT, além de figurões do Centrão, que tem ódio de Moro, incluindo o próprio presidente da Câmara, responsável por instalar a CPI.
A ideia é protocolar o pedido após o fim do recesso parlamentar, na semana que vem. “Vou assinar o pedido de CPI. Porque ele [Moro] tem que explicar como ganhou tanto dinheiro. É só explicar”, disse a este site Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade, que já está no colo de Lula para as eleições deste ano.
O “tanto dinheiro”, no caso, é pura especulação, pois ninguém sabe quanto o ex-juiz recebeu pelos 10 meses trabalhados na consultoria Alvarez & Marsal, após ele ter deixado o governo Bolsonaro, denunciando a interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Sem contar o fato de que a remuneração é privada, ao contrário dos bilhões de reais desviados pela Odebrecht e suas parceiras de clube no petrolão.
“Apoio. Acho uma iniciativa importante. Moro sempre foi implacável quando esteve do outro lado do balcão”, afirmou Wolney Queiroz (PE), líder do PDT, de Ciro Gomes. Ponderamos com o deputado que o PT quer investigar a atuação de Moro na iniciativa privada, o que não envolve dinheiro público. Mas ele reafirmou a defesa da eventual investigação.
“Essa CPI é mais do que necessária. Sergio Moro é uma farsa que precisa ser desmascarada. Já não basta o papel nefasto que cumpriu na construção de uma trama mentirosa que mudou o jogo político do Brasil, abrindo portas para a política de destruição bolsonarista? Ele precisa prestar contas da atuação dele nessa ‘consultoria'”, disse Talíria Petrone (RJ), líder do PSOL. Ivan Valente, psolista de São Paulo, pensa da mesma forma e assinará o requerimento da CPI.
Perpétua Almeida, do PCdoB do Acre, favorável a uma eventual CPI, disse ser “urgente investigar esse conflito de interesses”.
Entre os deputados do Podemos, partido de Moro, José Nelto, de Goiás, disse: “Essa CPI é a CPI da Vingança, um absurdo, uma excrescência. Não coloco a minha assinatura e vou trabalhar para que ela não seja instalada”, disse ele a O Antagonista. Já o bolsonarista Diego Garcia (PR) afirmou que ainda não leu o requerimento nem foi procurado para conversar sobre o assunto, mas afirmou que a CPI “terá grande apoio”. Os outros integrantes da bancada do Podemos ainda não se manifestaram publicamente.
Parte dos parlamentares já entendeu que esse movimento para instalar a tal CPI é estratégia da esquerda, liderada por Lula, para sufocar a candidatura do ex-juiz da Lava Jato.
O deputado Kim Kataguiri (SP), que vai trocar o DEM pelo Podemos, partido de Moro, disse a este site: “O PT está acusando o golpe. Diz que Moro não tem chances e que a Terceira Via é natimorta, mas se une ao bolsonarismo e ao Centrão para abrir CPI com base em investigação que já foi feita e arquivada. Isso mostra o tamanho do medo dos bolsopetistas com a candidatura de Moro”.
O líder do Novo, Paulo Ganime (RJ), afirmou: “Sempre sou favorável a que todas as denúncias de potencias crimes sejam investigadas. Mas, nesse caso, isso parece um uso totalmente político, ainda mais por se tratar de uma questão privada. Estão tentando transformar o juiz que condenou os bandidos em réu e o bandido em salvador da pátria”. Alexis Fonteyne (SP), também do Novo, chamou a proposta de CPI de “absurda”. “Fato irrelevante e entre entes privados: pura perseguição”, acrescentou.
Delegado Waldir (GO), que liderou a bancada do PSL no primeiro ano do governo Bolsonaro, quando o presidente ainda era da sigla, disse que “o PT quer transformar o bandido em mocinho e o xerife em criminoso” e que, “apenas no Brasil, ‘o poste mija no cachorro'”. Ele ainda provocou: “Tem que fazer coleta de assinaturas para CPI para apurar porque Lula está na rua, e não na cadeia, depois de comandar o mensalão e o petrolão”.
Para o deputado Daniel Coelho, do Cidadania de Pernambuco, “o medo é a motivação do PT”. Ele deu uma sugestão: “Se incluir nessa CPI também as consultorias que Lula e seu instituto fizeram, não vejo problema”. Rubens Bueno (Cidadania-PR) disse que “a investigação em pleno 2022, contra um candidato que não atuou ou atua em políticas públicas, soa como eleitoreira”. Líder da bancada do Cidadania — o partido negocia possível federação com o Podemos de Moro –, Alex Manente afirmou que “se está criando uma CPI meramente política e eleitoral, para tentar atacar a imagem do Moro”. “Essa CPI não pode prosperar na Câmara. Caso contrário, ao invés de termos CPIs concretas, passaremos a usar esse instrumento somente para atacar adversários. O PT tenta, com isso, passar a ideia de que Lula foi inocentado, o que não é verdade”, emendou.
Fábio Trad, do PSD do Mato Grosso do Sul, relator da PEC da prisão em segunda instância, que não andou, é contra a CPI. Ele alegou que, neste ano, “a Câmara deve se concentrar em deter o processo de degradação institucional e econômica que se acentuou com a desastrada atuação do governo Bolsonaro na pandemia”. E comentou: “O PT precisa debater o país com Moro: Lula e Moro frente a frente debatendo o país. Sobre essa suposta relação de Moro com empresas, havendo indício de irregularidades, os órgãos de controle estão aptos a investigar”.
O deputado Eduardo Cury, do PSDB de São Paulo, foi direto: “É uma tentativa de CPI patética, uma cortina de fumaça para a narrativa de apagar o passado, transformando corruptos de ontem em ‘estadistas’ do amanhã”. Correligionário de Cury, o tucano Danilo Forte, do Ceará, disse que, “se os indícios forem fortes”, vai apoiar a CPI. “O pau que dá em Chico, dá em Francisco”.
No PP de Lira e de Ciro Nogueira, o ministro da Casa Civil de Bolsonaro que aplaudiu a iniciativa do PT de criar a CPI, há opiniões divergentes. A deputada Margarete Coelho (PP-PI), que relatou, no ano passado, o novo Código Eleitoral, no qual tentou se instituir uma quarentena eleitoral para juízes e promotores, é a favor da CPI: “Acho que o caso merece apuração, sim”. Já o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) afirmou: “Temos muito mais coisas importantes para fazer. Agora, é o povo que julgará os candidatos nas urnas”.
Também do PP, Fausto Pinato (SP) quis deixar claro que é um crítico da Lava Jato e que, por exemplo, é contra a prisão de condenados em segunda instância, mas ponderou que procura se pautar pelo que chamou de “pragmatismo”. “Vejo essa CPI sendo articulada por deputados de esquerda e bolsonaristas como uma iniciativa desnecessária, apelativa e antidemocrática”, disse. “Mas acho que isso pode dar palanque ao Moro, que pode ‘fazer do limão uma limonada'”, acrescentou.
O deputado Heitor Freire (PSL-CE) considera a proposta petista de CPI contra Moro “muita falta do que fazer”. “Por que que eles não vão atrás de propostas para o Brasil? Por que não botam o Lula para andar na rua? Eles não têm o que fazer e ficam enchendo o saco de quem tem. Arrumar uns lotes pra capinar teria mais utilidade do que essa CPI”, disse.
Entre ex-aliados de Jair Bolsonaro, a avaliação é a de que lulistas e bolsonaristas, com o Centrão no meio, estão juntos contra Moro.
“Os últimos movimentos do PT demonstram claramente que não estão preocupados com o Bolsonaro, mas, sim, com o Moro. Essa tentativa de perseguir opositores já ocorreu no passado e o brasileiro tende a ficar do lado do perseguido. Se eles avançarem com essa CPI, estarão entregando a Presidência da República a Sergio Moro antecipadamente”, opinou Luis Miranda (DEM-DF), que, em 2021, denunciou o suposto esquema de corrupção envolvendo as tratativas, no Ministério da Saúde, para a compra da vacina indiana contra a Covid.
O deputado Júlio Delgado (MG), embora seja do PSB, partido com o qual petistas e bolsonaristas contam para ir para cima de Moro, disse que não assinará o requerimento e comentou que, “se Moro for para uma CPI, o ex-juiz se fortalece como Terceira Via”. “Eu não assino por não ver fato determinado. CPI não pode ser vingança ou tentativa de aniquilar adversários. Mais uma vez, os polos se aproximam e isso terá reflexos”.
Júnior Bozzella (SP), um dos vice-presidentes do PSL e entusiasta da candidatura presidencial de Moro, disse que essa ideia de CPI deixa claro que “PT, bolsonarismo e Centrão são uma coisa só”.
“Estão juntos e misturados para tentar aniquilar o combate à corrupção no Brasil. São todos ‘farinha do mesmo saco’. Se esse disparate for adiante, teremos na história deste país uma CPI vazia sendo instaurada por dois grupos para tentar tirar um adversário político do processo eleitoral. Esse pessoal que agora fala em CPI é a turma do mensalão, do petrolão, da rachadinha e do orçamento secreto. Estão tentando colocar uma pá de cal no combate à corrupção, usando o velho modus operandis de disseminar fake news para tentar manchar a biografia do Sergio Moro, que, diferentemente deles, tem currículo e não ficha corrida. Lamentável que os Poderes constituídos do País percam tempo com pautas que têm como único objetivo antecipar o processo eleitoral, ao invés de discutir os problemas do povo, como inflação, miséria e fome. O fato de o Moro ter prestado consultoria para a Alvarez & Marsal é mais um assunto que não tem pé nem cabeça. A empresa tem vários braços e o Moro prestou consultoria à empresa no que tange ao combate à corrupção e ao suborno. Essa CPI é uma insanidade, uma total inversão de valores. Querer investigar alguém por trabalhar no combate à corrupção e ao crime organizado é ‘o poste fazendo xixi no cachorro’. Essa CPI nada mais é do que ‘a banana tentando comer o macaco’.”
O deputado Arthur Maia (DEM-BA) disse a O Antagonista que a CPI “não passa de uma estratégia política para desgastar o Moro”. Questionado sobre se irá assinar o requerimento, respondeu que ainda não viu o texto e que ainda não solicitaram o apoio dele. José Rocha (BA), do PL de Bolsonaro, disse ser contra a CPI: “Sou contra. Como é ano eleitoral, vira palanque”. Fábio Abreu (PI), também do PL, disse que não acha a ideia “razoável”.
A bancada do PSD, de Gilberto Kassab, segundo o deputado Joaquim Passarinho (PA), ainda não discutiu o assunto, mas ele disse que “essa investigação parece jogo político”. “Tem um fato determinado?”, perguntou ele, que hoje é um dos vice-líderes do governo Bolsonaro na Câmara.
Hildo Rocha, do MDB, afirmou a O Antagonista: “Não vejo necessidade de CPI para tratar sobre esse assunto. Esse caso deve ser tratado pelo MPF. Temos que usar o pouco tempo existente do nosso mandato para resolver os problemas urgentes do Brasil”.
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