246 anos de atraso 246 anos de atraso
O Antagonista

246 anos de atraso

avatar
Carlos Graieb
3 minutos de leitura 04.02.2022 19:35 comentários
Brasil

246 anos de atraso

A primeira pessoa a sustentar que todo governo deveria ser transparente aos olhos dos cidadãos foi um parlamentar sueco chamado Anders Chydenius. Em 1766, ele convenceu seus colegas legisladores a instituir um regime de "liberdade de informação" na Suécia. Eu não tinha a menor ideia disso, descobri agora há pouco na internet. Fui pesquisar para  entender quanto tempo Ricardo Barros, o líder do governo na Câmara, e vários outros deputados e senadores, estão atrasados na sua maneira de fazer política. Agora sei a resposta: 246 anos, no mínimo...   

avatar
Carlos Graieb
3 minutos de leitura 04.02.2022 19:35 comentários 0
246 anos de atraso
Foto: Adriano Machado/Crusoé

A primeira pessoa a sustentar que todo governo deveria ser transparente aos olhos dos cidadãos foi um parlamentar sueco chamado Anders Chydenius. Em 1766, ele convenceu seus colegas legisladores a instituir um regime de “liberdade de informação” na Suécia. Eu não tinha a menor ideia disso, descobri agora há pouco na internet. Fui pesquisar para  entender quanto tempo Ricardo Barros(foto), o líder do governo na Câmara, e vários outros deputados e senadores, estão atrasados na sua maneira de fazer política. Agora sei a resposta: 246 anos, no mínimo. 

Barros ficou irritadíssimo nesta semana, porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu à Controladoria Geral da União (CGU) que todas as nomeações para cargos no Executivo venham acompanhadas da identidade do político que fez a indicação.

Segundo Barros, Guedes fez uma “provocação” desnecessária, que atrapalha a relação entre governo e Congresso. Ele disse ainda que a ideia não vai prosperar, porque não existe lei que obrigue a divulgação dos nomes dos padrinhos políticos. Outras lideranças partidárias ironizaram Guedes e recomendaram que ele fosse cuidar da própria vida, em vez de se intrometer nos assuntos do Legislativo.

Barros tem razão em uma coisa: Guedes quis cutucar os parlamentares. A relação do ministro com o Congresso está tão desgastada que ele nem sequer foi consultado nesta quinta-feira sobre a PEC dos Combustíveis, que pode resultar em uma perda de arrecadação de dezenas de bilhões de reais para a União. Incapaz de liderar qualquer discussão econômica, Guedes faz o que lhe resta: atazanar. 

Mas isso não tira o mérito da sua ideia. Mais ainda, quando se percebe que mesmo depois de todo escândalo do orçamento secreto, deputados e senadores continuam crentes de que não devem prestar contas da sua ração de verbas e cargos

Atentemos ao raciocínio: quando alguém sugere que as indicações políticas devem ser submetidas à regra da transparência, está se intrometendo em assuntos do Legislativo.

Não é nada disso. 

São os legisladores que se metem em assuntos do Executivo quando alojam em postos-chave da máquina federal pessoas da sua confiança, que muitas vezes nem sequer têm a formação necessária para desempenhar aquelas funções. Nada mais justo que seus nomes estejam ligados aos eventuais porcalhões. Nada mais justo que eles também tenham de prestar esclarecimentos, quando um diretor de estatal enfia distraidamente um maço de dinheiro na cueca.

O argumento de que não existe lei que obrigue o padrinho político a se expor também é furado. Foi o mesmo utilizado por Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, ou melhor, Cínico e Sonso, durante a discussão do orçamento secreto. O STF atropelou a tese, pelo simples motivo de que o dever de transparência está previsto na Constituição. 

A maneira como Câmara e o Senado se agarram ao segredo é coisa do século 18. O tempo no Brasil demora demais a passar.  

 

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
2

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
3

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
4

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
5

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
6

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
9

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
10

Papo Antagonista: Indiciamento de Bolsonaro e bolsonaristas

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Calendário PIS 2025 (21/11): Saiba os valores e como receber!

Visualizar notícia
2

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
3

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
4

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
5

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
6

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
7

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
8

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
9

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
10

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Arthur Lira CGU Congresso orçamento secreto Paulo Guedes Ricardo Barros Rodrigo Pacheco Transparência
< Notícia Anterior

Em vídeo, Deltan Dallagnol critica atuação de Lucas Furtado: "Absurda"

04.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

MPF apura se PRF abusou de autoridade em protesto contra Bolsonaro

04.02.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Calendário PIS 2025 (22/11): Saiba os valores e como receber!

Calendário PIS 2025 (22/11): Saiba os valores e como receber!

Visualizar notícia
Alerta laranja do Inmet para risco de chuvas intensas. Veja as regiões

Alerta laranja do Inmet para risco de chuvas intensas. Veja as regiões

Visualizar notícia
Morre Iolanda Barbosa: Um olhar sobre o Alzheimer

Morre Iolanda Barbosa: Um olhar sobre o Alzheimer

Visualizar notícia
Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.