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Zangado com o Ocidente, Dengoso com nações autoritárias

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Carlos Graieb
4 minutos de leitura 23.09.2024 13:08 comentários
Análise

Zangado com o Ocidente, Dengoso com nações autoritárias

Discurso de Lula na ONU deu mais provas de como a sua política externa é indesculpável

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Carlos Graieb
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Zangado com o Ocidente, Dengoso com nações autoritárias
Foto: Ricardo Stuckert

Este domingo, 22, forneceu mais provas do quanto é patética a política externa de Lula e Celso Amorim. 

Não estou me referindo ao fato de terem cortado o microfone do presidente brasileiro enquanto ele discursava no encerramento da Cúpula do Futuro, evento realizado pela ONU para rediscutir o papel dos organismos multilaterais e que resultou na votação de uma espécie de carta de intenções chamada Pacto do Futuro.. 

A interrupção foi constrangedora, mas não tem significado maior, além de Lula ter estourado o tempo reservado para ele. 

As broncas de Lula

O problema está mesmo na orientação da diplomacia brasileira. 

O discurso de Lula estava cheio de broncas dirigidas aos países ricos. Segundo ele, faltou “ambição e ousadia” na construção do Pacto, que ainda está muito longe de encaminhar uma reforma estrutural dos organismos multilaterais e faz pouco para garantir que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável sejam cumpridos.  

Muito bem. Mas como se comportaram as potências durante as negociações? 

Estados Unidos e Europa ajudaram a esvaziar o Pacto em questões econômicas, resistindo, por exemplo, a ampliar a representatividade dos países em desenvolvimento nas instituições financeiras globais.  Os EUA também se recusaram a abrir mão do direito de veto a resoluções do Conselho de Segurança da ONU. 

No final, contudo, apoiaram a redação do documento. 

A Rússia e seus satélites

Enquanto isso, a Rússia de Vladimir Putin fez objeções a 25 das 56 recomendações contidas no Pacto. Reclamou de itens que exigem que os membros da ONU respeitem as leis internacionais, se abstenham de usar ameaças ou agressões armadas para resolver conflitos, restrinjam o uso da inteligência artificial como arma de guerra e fortaleçam os mecanismos de proteção aos direitos humanos. 

Além disso, no momento em que o texto ia ser votado, a Rússia rompeu as expectativas e o protocolo fazendo novas exigências. Bagunçou o coreto e articulou até mesmo um boicote. 

Quem tomou o partido dos russos na tentativa de sabotar a votação? Venezuela, Irã, Nicarágua, Síria, Eritreia e Belarus. Só gente boa. 

Sim, o Brasil ficou ao lado dos outros 142 países que apoiaram o texto. Mas quem ouve as palavras de Lula, jamais saberá que a Rússia criou dificuldades em questões tão básicas quanto direitos humanos. 

Dupla personalidade

Ah, mas isso faz parte da linguagem diplomática, que prefere deixar as coisas nas entrelinhas – alguém dirá. E faz parte de uma estratégia para posicionar o Brasil como negociador em questões globais. 

São as desculpas de sempre. Elas poderiam fazer algum sentido se a Rússia, seus aliados e satélites não estivessem no jogo de solapar a democracia ao redor do mundo. Como estão, o comportamento de Lula é indesculpável. 

Como este site não se cansa de dizer, somos um anão diplomático. E ainda por cima, com dupla personalidade: Zangado com o Ocidente e Dengoso com nações autoritárias.

Nesta terça, 24, tem mais, visto que Lula vai abrir a Assembleia Geral da ONU, provavelmente com bravatas e lorotas sobre a liderança do Brasil na questão climática. Que preguiça. 

PS:

A revista The New Yorker publicou neste domingo uma entrevista com o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky. Ela traz uma descrição perfeita de líderes como Lula (que conversou com Putin por telefone na última quinta, 19):

“Muitos líderes mundiais querem negociar com Putin, construir acordos, conduzir negócios com ele. Eu olho para esses líderes e percebo que estão muito interessados ​​em jogar esse jogo — e para eles, infelizmente, é realmente um jogo. Mas o que faz um verdadeiro líder? Um líder é alguém de quem Putin precisa, não uma pessoa que precisa de Putin. Flertar com ele não é um sinal de força. Sentar-se à mesa com ele pode fazer você acreditar que está tomando decisões importantes sobre o mundo. Mas sobre o que essas decisões realmente são? A guerra acabou? Não. A conversa produziu o resultado desejado? Ainda não. Putin ainda está no poder? Sim.”

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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