Taxação da blusinha: sorria, palhaço!
Tentativa de esconder paternidade de taxação impopular falha, e ação do governo em prol da medida escancara a desfaçatez
A tributação de compras de até 50 dólares em sites chineses, também conhecida como taxação da blusinha, é uma proposta envergonhada do governo, que, mais uma vez, tentou fazer com que a medida fosse aprovada sem que a digital petista aparecesse.
A cobrança de impostos sobre compras abaixo de 50 dólares de sites chineses é um desejo de primeira hora do governo Lula. O próprio petista defendeu, em março do ano passado, que as “empresas chinesas pagassem impostos” para vender no Brasil.
A fala ecoou no posicionamento de Janja, à época, com o meme pronto: “quem paga imposto é a empresa”. Claro que impostos são repassados para os preços das mercadorias e, sempre, quem paga é o consumidor. A proposta foi rapidamente escondida após o incidente do ano passado em função da forte rejeição dos brasileiros contra a medida.
Não ia vetar?
Desta vez, o governo tentou emplacar a mão invísivel do Estado transvestida de medida do Congresso Nacional. Enquanto isso, Lula bradava que vetaria a proposta que encarece as “bugigangas” adquiridas pelos brasileiros nos sites chineses.
Para a tarefa inglória, convocou Arthur Lira. O presidente da Câmara dos Deputados fez valer o acordo, mesmo após a bancada governista tentar abandonar a medida.
Uma votação simbólica evitou que os nomes dos favoráveis a taxação do super-ricos consumidores de produtos de sites chineses ficassem conhecidos. No Senado, porém, houve um contratempo inesperado.
O adversário político de Arthur Lira e relator da matéria no Senado, Rodrigo Cunha, resolveu retirar a medida do texto em que foi incluída na Câmara dos Deputados. O rei ficou nu!
Lula, que, recentemente, disse que vetaria a taxação, aceitava a tributação dos compradores de bugigangas que prometeu defender? Jaques Wagner, líder do governo no Senado, não deixou dúvidas sobre o pensamento do chefe e defendeu em público a reinserção do dispositivo no texto em discussão.
Lira, que havia assumido o desgaste do avanço da medida na Câmara dos Deputados, decidiu então cobrar Haddad pelo cumprimento do acordo. O ministro, em passagem pelo Vaticano, onde defende a tributação dos super-ricos, ouviu. No entanto, o estrago está feito.
Qualquer que seja o desfecho, ficou claro o alinhamento do governo pela taxação. Arthur Lira também ficou marcado para a população alagoana e brasileira, em geral, como defensor do tributo.
Da Itália, a sociedade brasileira ouve ecos da ópera Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo, que, ao final do primeiro ato, urge ao palhaço que vista a fantasia, pinte a cara e ria. “As pessoas pagam e querem rir“, explica a canção. “Ria, palhaço“!
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