Super quarta: EUA e Brasil decidem taxas de juros
Entenda as expectativas do mercado e os efeitos sobre dólar e real das decisões do Federal Reserve e do Comitê de Política Monetária do Banco Central
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O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, e o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, definem de forma quase sincronizada nesta “Super quarta”, 29 de janeiro, quais serão as taxas de juros em suas respectivas economias.
Fed: expectativa de manutenção das taxas
Nos EUA, a expectativa do mercado financeiro é de que a taxa de juros seja mantida em 4,5%. Ao longo de 2024, o Fed adotou um ciclo de redução nas taxas de juros, em resposta à desaceleração da inflação, após uma série de aumentos agressivos entre 2022 e 2023.
Os analistas preveem uma “pausa” na política de afrouxamento, ou seja, na queda de juros. A decisão está prevista para 16h de Brasília.
Copom: expectativa de aumento de 1% na Selic
No Brasil, a situação é diferente. O Copom tem sinalizado a necessidade de elevar a taxa Selic para controlar as pressões inflacionárias, principalmente após a recuperação do consumo, e os riscos fiscais.
Atualmente, a Selic está em 12,25%, mas a expectativa do mercado é de que o Copom decida por um aumento de 1%, levando a taxa para 13,25%. Na última Ata do Copom, ficou relativamente claro que, para os diretores do comitê, o correto seriam mais duas elevações de 1% cada, levando a Selic para 14,25% ao ano, após a reunião de 19 de março. A decisão desta quarta está prevista para 18h30, com o fechamento do mercado.
Impactos para os mercados
Nos EUA, a expectativa de manutenção das taxas indica uma política de observação, alinhada com os agentes de mercado, sobre o desenrolar da governo do presidente recém-empossado Donald Trump e os impactos reais da eventual guerra fiscal contra alguns países.
Caso saia uma decisão diferente da prevista, certamente teremos uma forte correção, a depender da explicação pós-anúncio.
Já no Brasil, o aumento da Selic seguirá turbinando a pressão sobre o crescimento econômico, pois torna o crédito mais caro e eleva a taxa de retorno livre de risco, que pode desencorajar empresários a investir em suas empresas.
Por outro lado, também pode fortalecer o real no curto prazo, ao atrair investimentos estrangeiros, devido ao diferencial de juros ter aumentado em relação aos EUA.
Os investidores devem observar de perto as declarações dos presidentes do Fed, Jerome Powell, e do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo (foto), porque elas poderão indicar as direções futuras das políticas monetárias, e o impacto nos mercados financeiros pode ser imediato.
Opinião do operador
Para os investimentos, os EUA ainda são a referência de porto-seguro mundial e, com uma taxa de juros de 4,75%, superior aos 3% da zona do euro e o 0,75%-1% no Japão, ainda é uma forte pressão a favor do dólar em nível mundial. Significa mais rentabilidade, combinada com mais segurança. É sinfonia para os ouvidos de muitos fundos e investidores globais. Assim sendo, o dólar deve seguir forte frente ao euro e outras moedas mais sólidas.
Por outro lado, com o Brasil elevando juros mais uma vez, aumentaremos o diferencial de juros contra os EUA e outras economias sólidas. Isso torna o Brasil mais atraente para a entrada de recursos em busca de uma maior rentabilidade na renda fixa, estimulando uma valorização do real, com um grande fluxo de compra da moeda.
O grande problema é que estamos elevando os juros por duas principais razões: o aumento do risco político-fiscal e a pressão inflacionária (que tende a desvalorizar o real diante do mundo). São duas variáveis que incomodam bastante a maioria dos investidores, domésticos ou internacionais.
O mercado antecipa movimentos minimamente previsíveis e as quedas recentes do dólar frente ao real — descolando dos 6 reais para os atuais 5,86 reais — também foram parte dos ajustes dos juros, a serem confirmados nessa “Super quarta”. Os comunicados logo após os anúncios das novas taxas serão determinantes para desenhar um cenário, menos turvo, de preços para o dólar.
Uma coisa é certa: melhor do que subir juros no Brasil seria apaziguar a relação governo-mercado.
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Pedro Kazan é profissional do mercado financeiro desde 1999, empreendedor e palestrante, formado em Engenharia de Produção com ênfase em Engenharia Econômica pela UFRJ. De 2002 a 2004, fez parte do Controle Operacional da Mesa Proprietária do Banco BBM, de onde saíram os fundadores das mais renomadas Assets do Brasil, como SPX, Kapitalo e Navi. Desde 2004 dedica-se à Gestão de Recursos e Assessoria de Investimentos Private. Fundador do canal de educação financeira KZN Investimentos. Nascido no Rio de Janeiro. Vivendo em Lisboa.
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