Sobre os Bolsonaro, laranjas e laranjais
Poucas famílias brasileiras, ainda que clãs políticos com relações íntimas com o Poder, têm o sucesso financeiro dos Bolsonaro
Eu juro que tentei, mas não consegui encontrar fonte confiável que me explicasse o termo “laranja”, para definir o que a Justiça chama de “interposta pessoa” no cometimento de crimes por terceiros. Fato é que a fruta – ficou meio estranho isso! – se tornou sinônimo de quem presta serviços ilícitos a criminosos, via de regra, recebendo vantagens pelo trabalho sujo.
Se há tipos de laranjas: Pêra, Lima, Bahia, Da Pérsia – a minha preferida, com vodka -, há tipos de laranjas: inocentes (utilizados sem que saibam e sem lucro algum), cúmplices (cientes dos riscos, dos fatos e dos ganhos) e até mesmo sócios dos mandantes (que apenas ocultam os comparsas, participando da gestão e dos resultados da picaretagem).
Poucas famílias brasileiras, ainda que clãs políticos que construíram impérios a partir de relações íntimas com amigos de fé, irmãos camaradas, nos corredores e gabinetes do Poder, têm o sucesso financeiro dos Bolsonaro. A diferença, neste caso, que salta aos olhos, tem a ver com, digamos, a estrutura organizacional do mito e seus bolsokids.
Rachadinhas
Os Sarney, por exemplo, ou os Collor de Mello, Magalhães e companhia, a despeito de tantos e tamanhos escândalos, fizeram fortunas com negócios formais, a maioria no setor de Comunicação. Já os Bolsonaro optaram – como é mesmo a música “Vai Passar”, de Chico Buarque? – por tenebrosas transações, sobretudo imobiliárias, e parte em dinheiro vivo.
Paralelamente ao sucesso no segmento de imóveis, funcionários (alguns, fantasmas) da Alerj e da Câmara dos Deputados deram uma mãozinha, com a entrega de parte dos salários, e o pagamento de despesas pessoais. Fabrício Queiroz e sua pimpolha (uma personal trainer) estão aí, vivinhos da Silva, para não me deixarem mentir.
O carequinha, inclusive, quando foragido da Polícia, mocou-se em um “cafofo” em Atibaia (SP), de propriedade de Frederick Wassef, advogado dos Bolsonaro. Aliás, não sei por que esta simpática cidade recebe tantos suspeitos e enroscados com a Justiça. Para ser mais claro: pedalinho, piscina, adega e antena de celular em um certo “sítio-que-não-é-meu”.
Laranjas e laranjais
Sempre generoso, Wassef bancou despesas hospitalares de Queiroz, homem de confiança, há décadas, de Bolsonaro-pai e Bolsonaro-filhos. Bancou, também, recentemente, a recompra do tal Rolex, subtraído do patrimônio da União e vendido clandestinamente, por um servidor federal, nos Estados Unidos. Seria Wassef um “laranja”? É só uma pergunta.
Fabrício Queiroz confessou que recebia, indevidamente, parte dos salários dos funcionários do gabinete do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro, e que pagava despesas pessoais do chefe e sua família. Porém, fiel, à Justiça, declarou que o bolsokid 01 não sabia de tamanha generosidade. Seria Queiroz um “laranja”? É apenas outra pergunta.
Em 2019, primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro, eclodiu o esquema de candidaturas femininas falsas no Partido Social Liberal (PSL), legenda que abrigou – e abrigava, à época – o presidente recém-eleito. O esquema envolvia um então ministro de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, que utilizava recursos públicos destinados a candidatas fantasmas.
Anistias cítricas
O “Laranjal do PSL” chegou a resvalar em Jair Bolsonaro, já que uma planilha, apreendida pela Polícia em uma gráfica, apontava serviços prestados à campanha do mito. Em 17 de maio de 2019, o presidente sancionou a lei 13.831/19, anistiando as legendas que não cumpriram a regra do financiamento de candidaturas femininas até as eleições de 2018.
Mais recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou, em segundo turno, uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) ainda mais ampla, que também anistia as multas impostas aos partidos irregulares. O texto seguiu para o senado e deverá ser votado ainda este ano, para a provável alegria dos laranjas e seus laranjais.
Peço perdão por ter me desviado um pouquinho do laranjal central, e já encerro com um último suco. Vocês conhecem Antônio Amâncio Alves Mandarrari? Jair Renan Bolsonaro, o 04, conhece. Segundo a Polícia Civil do DF, que investiga o bolsokid por estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e associação criminosa, trata-se do “laranja” da suposta quadrilha. Pelo visto, tem futuro esse rapaz.
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