Quantos votos Boulos virou no “momento histórico” com Marçal?
Depois de uma das campanhas mais agressivas da história de São Paulo, a "entrevista de emprego" com o influenciador apenas atesta o desespero do candidato do PSOL
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP, à direita na foto) entrou na disputa pela Prefeitura de São Paulo com uma nódoa no próprio discurso: ajudou a limpar a barra do aliado André Janones (Avante-MG) no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, no caso da rachadinha. Nesta sexta-feira, 25, Boulos deixa a campanha com outra mancha à persona política que criou: a “entrevista de emprego” a que se submeteu com o influenciador Pablo Marçal (PRTB).
A live com Marçal, que teve picos de 400 mil espectadores no YouTube, foi a última cartada de Boulos para tentar “virar votos” na reta final da campanha, Em outras condições, um encontro online como esse serviria como demonstração de civilidade — e Marçal chegou a defini-lo como um “momento histórico na democracia brasileira” —, mas, depois de uma das campanhas mais agressivas da história de São Paulo, a “entrevista de emprego” apenas atesta o desespero de Boulos.
Há pouco mais de um mês, Boulos dizia que Marçal fez sua filha chorar pelas insinuações sobre uso de cocaína. O ex-coach chegou a publicar um receituário falso na véspera da votação do primeiro turno, o que levou Boulos a pedir a prisão de Marçal. Nesta sexta, o deputado federal disse que não se move por mágoa ou ressentimento e se submeteu à bateria de questionamentos do adversário que até outro dia queria ver preso — e cujas redes sociais tentou bloquear.
Sequelas
Tudo isso faz parte o jogo político, naturalmente, mas as sequelas do pragmatismo e do oportunismo costumam ser piores para homens públicos como Boulos, que se promovem a partir de um discurso de pureza e coerência ideológica — e ele já vinha amenizando o discurso durante a campanha, como destacou a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP).
O deputado federal do PSOL tentou manter o discurso durante a “entrevista de emprego”. Disse que não se arrepende de nada do que fez, nem de ter aceitado relatar o caso de Janones no Conselho de Ética, mas prometeu se arrepender caso cometa erros depois de eleito prefeito, caso venha a ganhar a disputa no domingo.
Disse que aceitou conversar com Marçal porque nunca fugiu do embate, e foi lembrado pelo entrevistador de que boicotou o debate da Veja. “Não houve acordo sobre as regras”, retrucou Boulos, que, provocado pelas perguntas do ex-coach, exaltou as empresas, que geram “empregos para as pessoas poderem trabalhar”.
Prosperidade
Respondendo a outra questão de Marçal, Boulos disse que acredita na prosperidade, e que, apesar de não ter juntado dinheiro e de morar no mesmo local há 20 anos, porque “professor é uma profissão que não dá dinheiro”, considera-se uma pessoa próspera.
O candidato do PSOL também concordou que “o empreendedorismo liberta as pessoas”, elogiou o projeto de escolas olímpicas de Marçal, bateu o quanto pôde na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) — que não aceitou o convite para a entrevista nem atendeu ao telefonema que o entrevistador lhe fez ao vivo — e tentou convencer os eleitores de Marçal a optar por ele no segundo turno a partir da perspectiva de mudança.
Se Boulos acredita mesmo na possibilidade de uma virada no domingo, ele não tinha outra opção senão atender ao convite de Marçal. O problema é que as pesquisas de intenção de voto indicam que ele tem mais de 50% de rejeição, o que inviabiliza uma vitória.
Virou?
Se esse cenário de rejeição estiver correto, Boulos já deveria estar pensando na próxima eleição. Em outras palavras, ele ganharia mais politicamente neste momento ao manter a coerência, em vez de dar palco para seu pior adversário, que já foi derrotado e, ironicamente, fez uma “entrevista de emprego” após provocá-lo com uma carteira de trabalho durante debate.
Pode ser que esse movimento final na direção de Marçal tenha virado alguns votos para Boulos nesta campanha, mas provavelmente também virou outros votos contra ele numa próxima eleição.
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