Por que você não deve apostar na Mega da Virada, mas vai mesmo assim
Ganhar na Mega-Sena equivale a uma chance em mais de 50 milhões, ou seja, só não é impossível porque, vez ou outra, alguém ganha
Um dos ditados mais conhecidos – e insuportavelmente procrastinadores – é: “a esperança é a última que morre”. Em outras palavras, por pior que tudo esteja, mantenha a fé, pois dias melhores virão. Ou por outra: “no final, tudo dá certo. Se ainda não deu, é porque não chegou o final”. E assim levamos a vida sorrindo, para ela não nos levar chorando.
Bem, “ganhar na Mega-Sena” equivale a uma chance em mais de 50 milhões, ou seja, só não é impossível porque, vez ou outra, alguém ganha. Nesse caso, entra em ação um dos campos mais fantásticos da matemática: a estatística. Quando milhões de pessoas apostam simultaneamente, em algum momento, alguém irá ganhar e nos matar de inveja.
O diabo é que esse “alguém” não será eu e vocês, queridos leitores. Como sei? Da mesma maneira que sei que não morreremos amanhã, atingidos por um raio na cabeça, às 8:45h, ao sairmos para comprar pão e leite. Estatisticamente falando, essa possibilidade é nula. Ou seja, no primeiro dia de 2025, estaremos todos vivos e continuaremos não milionários.
Sonhar é bom e barato
Ainda assim, contudo, há um motivo real para jogar dinheiro fora e apostar na Mega-Sena: o sonho. É “bão dimais da conta” fazer planos com os 600 milhões de reais que iremos ganhar. Vale cada centavo investido, até o sorteio mostrar que: “um único apostador, de Serra da Saudade (MG), o menor município do Brasil, acertou sozinho as seis dezenas”.
Imaginamos – e sentimos prazer real com isso – os imóveis (praia, campo, outros países) e os objetos de luxo (carro, barco, joia, bolsa, avião) que iremos comprar, as pessoas que iremos ajudar (e os malas que não iremos, pois não merecem), as viagens que faremos (hoteis, passagens de primeira classe, restaurantes) e mesmo o emprego que iremos largar.
Até para quem deixaremos os cacarecos atuais (casa, carro, roupas), nós planejamos até a hora da “verdade verdadeira”, em que nos deparamos com a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim. Pior. As mesmas contas e a mesmíssima rotina de antes dessa maldita Mega da Virada. “Nunca mais gasto dinheiro com essa porcaria”.
Mas, vai que…
Nos Estados Unidos, semana passada, um sujeito de Sacramento, Califórnia, levou sozinho o prêmio da Mega Millions, algo próximo a 1.3 bilhão de dólares. Se quiser receber de uma vez, terá que aceitar um desconto de quase 50%. Do contrário, levará mais de 30 anos para receber a fortuna. Fora a mordida do leão de lá, um bicho bravíssimo.
No Brasil, recebe-se o tão sonhado prêmio à vista, já descontados os impostos e os ganhos da Caixa, que equivalem a cerca de 56% do valor total arrecadado. Ou seja, nessa brincadeira toda, governo e banco são os únicos que ganham sempre. E nós, não custa repetir, perdemos sempre, leia-se: eu e você, leitor amigo, leitora amiga, eternos iludidos.
Porém, como “a esperança é a última que morre” e “se não jogar, não vai ganhar”, cá estou, há mais de uma hora, em uma fila virtual para apostar na Mega da Virada pelo site da Caixa. Duas coisas: 1) quem mandou deixar para a última hora?, e 2) por que não gastar essa grana com cerveja e torresmo? Eis aí duas perguntas sem respostas. Feliz ano novo!
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