PL do aborto: ao acenar para oposição, Lira tirou o PT das cordas
Ao fazer acenos para a bancada evangélica da Câmara, Lira deu uma pauta ao PT para chamar de sua. Era o que Lula precisava
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cometeu um erro político primário ao topar pautar a urgência do PL que equipara o aborto depois da vigésima segunda semana de gestação ao crime de homicídio.
Um erro primário com “E” maiúsculo.
Ao fazer acenos para a bancada evangélica da Câmara, Lira queria garantir, de forma antecipada, os votos dos deputados mais reacionários ao seu sucessor no cargo. A tendência é que Lira endosse a candidatura de Elmar Nascimento (União-BA), parlamentar que não é lá o mais popular entre os seus respectivos colegas.
De quebra, o deputado alagoano também pretendia dar outro recado ao PT e ao Palácio do Planalto: quem manda na pauta do Câmara é ele e seus deputados. Até mesmo em pautas consideradas extremamente controversas.
Lira deu com os burros n’água.
A reação da sociedade veio a galope. Obviamente que não se pode dizer que os protestos de 30, 40 gatos-pingados na Paulista, na Esplanada dos Ministérios ou no centro de Florianópolis representam o pensamento do brasileiro médio. Mas é um indicativo de que mudanças na lei sobre o aborto não podem acontecer de afogadilho, simplesmente porque três dezenas de deputados tiveram alguma ideia “iluminada” com base em seus achismos cristãos.
Qual foi o erro de Lira?
Ao pautar a urgência da proposta, Lira tirou o PT das cordas. Há aproximadamente três semanas, o Palácio do Planalto vinha sofrendo derrotas sucessivas no Congresso Nacional. Saidinhas de presos, fake news, uso de recursos da União para combater pautas conservadoras, devolução de trechos da MP sobre créditos de PIS/Cofins… a sensação, até terça-feira última, era que o governo estava à beira de um impeachment. Bastava Lula tensionar ainda mais a sua já desgastada relação com deputados e senadores e pronto: Lula teria o mesmo destino de sua antecessora, Dilma Rousseff.
Lira agora teve que recuar. Percebeu que nem ele, nem a Câmara, podem tudo. E o governo Lula, que de bobo não tem nada, busca retomar a narrativa. Nesta sexta-feira, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, inimigo de Lira, veio a público criticar a iniciativa do presidente da Câmara. Ou seja, ao cometer esse erro, o parlamentar deu ao PT uma pauta para chamar de sua. Uma pauta com apelo e que desperta paixões. Tudo que os petistas queriam.
E eles devem agradecer a um único nome: Arthur Lira.
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